Conforme a população da Arábia Saudita cresceu e a classe média se expandiu, o consumo disparou nos últimos anos| Foto: Tomas Munita/for The New York Times

O cartel internacional de produtores de petróleo há anos tem a mesma estratégia. Quando o mercado é desfavorável, o grupo corta a produção para aumentar os preços.

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Mas a Arábia Saudita tem uma nova agenda. Hoje o país está menos preocupado com o preço de petróleo cru nos mercados globais e mais com produzir combustível para sua economia em expansão.

A mudança está invertendo as dinâmicas tradicionais do mercado que influenciaram a direção do preço do petróleo por décadas.

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A Arábia Saudita, de longe o maior produtor na Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep), vem bombeando cada vez mais barris. Sua produção diária em março e abril quase se equiparou ao recorde alcançado em 1980, quando os preços estavam em alta. Os aliados do país, Kuwait e Emirados Árabes Unidos, também estão perfurando em índices recordes, enquanto o Iraque tenta aumentar sua produção. Até o Irã pretende desenvolver novos campos de petróleo.

A pressão aguda para cortar a produção também terminou: depois de uma queda acentuada no ano passado, os preços praticamente se estabilizaram em mais de US$ 60 o barril.

“Não haverá cortes na produção”, disse René G. Ortiz, do Equador, que já participou da Opep. “Cada país, especialmente os sauditas e as outras monarquias do Golfo, vai proteger sua parcela de mercado e ampliá-la o máximo possível.”

Durante décadas, a Arábia Saudita foi a força básica que fez da Opep o produtor determinante nos mercados globais, conhecido como swing, ou oscilante —limitando sua produção conforme a demanda do mercado, para mantê-lo em equilíbrio.

A produção de petróleo nos EUA quase duplicou nos últimos seis anos, reduzindo as importações da Arábia Saudita e de outros países da Opep. A situação obrigou os produtores a endurecerem a concorrência na Ásia com uma oferta que antes inundava o mercado americano.

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A Arábia Saudita vem procurando negócios com margem de retorno mais alta, como refinarias e petroquímicas. O país tem uma nova joint venture de US$ 22 bilhões com a Dow Chemical e várias novas refinarias que custam US$ 12 bilhões cada uma.

Especialistas sauditas dizem que a política do petróleo é cada vez mais definida por jovens tecnocratas que rodeiam o novo rei Salman, que chegou ao trono em janeiro. A nova liderança ainda dá ênfase ao preço do petróleo cru, mas também leva em conta que cortes na produção podem desacelerar a economia.

“A Arábia Saudita ainda está disposta a fazer o papel de swing e a jogar só para cumprir as expectativas dos produtores da Opep ou não Opep?”, disse Sadad Ibrahim al-Husseini, ex-vice-presidente da Aramco, a companhia de petróleo estatal saudita. “A resposta é não, obviamente não.”

O consumo de energia na Arábia Saudita cresce mais depressa do que em quase qualquer outro país, a uma média de 6% ao ano na última década. O petróleo é o combustível básico para a produção de eletricidade e dessalinização da água no território.

A Arábia Saudita bombeia 10,3 milhões de barris por dia. O reino precisa produzir quase 8 milhões de barris para coletar o gás natural que sai do chão com o petróleo.

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A demanda saudita por gasolina, diesel e combustível para aviões cresceu. Para compensar, o país espalhou negócios de refino por todo o mundo, construindo e expandindo nos EUA, na China, no Japão e na Coreia do Sul. Muitos desses empreendimentos visam processar graus inferiores de petróleo cru saudita, para se proteger de produtos semelhantes, especialmente na América Latina.

O investimento doméstico e internacional também dá ao país vantagens em um negócio cada vez mais competitivo.

Uma enorme rede de refinarias fornece aos sauditas um lar para seu petróleo em um momento em que eles combatem rivais da Opep como Irã e Iraque por mercados, especialmente na Ásia.

“Quando a concorrência está ávida para vender petróleo cru, os sauditas o vendem em sistemas que podem controlar”, disse Fereidun Fesharaki, da empresa de pesquisas FGE.

“Eles não querem ter de lutar por cada barril.”

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