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Sauditas promovem berço de seita sunita

Operário trabalha em reforma de um dos palácios de barro da família Saud em Diriyah | Tomas Munita/The New York Times
Operário trabalha em reforma de um dos palácios de barro da família Saud em Diriyah (Foto: Tomas Munita/The New York Times)

Mais de 250 anos atrás, os antepassados da família real saudita e um pregador fundamentalista marginalizado formaram uma aliança que definiu os destinos desta terra desde então.

Em troca da supremacia política, a Casa de Saud endossou a doutrina do xeque Muhammad ibn Abdul-Wahhab e travou a jihad contra quem quer que rejeitasse sua fé.

Essa aliança formou a base do Estado saudita moderno, que, em tempos recentes, vem fazendo uso de sua riqueza petrolífera para converter a doutrina rígida do clérigo —conhecida como wahhabismo— em uma importante força no mundo muçulmano.

Agora, este local, o berço de tudo, está se convertendo em atração turística. Centenas de operários estão restaurando os palácios de tijolos de barro onde a família Saud vivia e erguendo museus para destacar a história da família real. Uma estrutura elegante abrigará uma fundação dedicada ao xeque e a sua missão.

O projeto acontece em um momento difícil para a Arábia Saudita. Revoltas populares e guerras civis abalaram a ordem regional. A queda nos preços do petróleo atingiu o Orçamento nacional, e o reino está novamente sendo acusado de promover uma vertente intolerante do islã, semelhante à que é seguida pelo Estado Islâmico.

O desenvolvimento de Diriyah é um projeto caro ao novo rei, Salman. A previsão é que o novo complexo seja inaugurado em dois anos. O custo total é estimado em cerca de meio bilhão de dólares.

As autoridades sauditas esperam que o projeto conecte os cidadãos ao seu passado e reabilite a reputação do xeque Abdul-Wahhab, que, segundo elas, foi injustamente maculada.

Embora o wahhabismo tenha seguidores em todo o mundo, muitos muçulmanos detestam essa corrente porque ela vê os xiitas e os seguidores de outras seitas não sunitas —além de cristãos e judeus—como infiéis. Outros consideram que a divulgação do wahhabismo no exterior pela Arábia Saudita forneceu combustível ideológico a grupos como Al Qaeda e Estado Islâmico.

“É importante que os sauditas saibam que o Estado veio de um lugar específico, que foi preservado e erguido com base em uma ideologia verdadeira, correta e tolerante”, disse Abdullah Arrakban, da Alta Comissão para o Desenvolvimento de Riad.

Depois de Diriyah ter passado séculos abandonada, famílias se mudaram para a cidade e ergueram novas casas de tijolos de barro em meados do século 20. Em 1982, o governo adquiriu o local. O programa de desenvolvimento começou por volta de 1990, quando o rei Salman era governador da província de Riad.

O complexo vai incluir parques, restaurantes, estacionamentos subterrâneos e uma série de museus dedicados à vida tradicional saudita, à guerra e aos cavalos árabes. Os visitantes poderão percorrer o bairro antigo construído de tijolos de barro, Turaif, que em 2010 ganhou o status de Patrimônio Mundial da Unesco.

Num final de tarde recente, as trilhas para pedestres que serpenteiam entre restaurantes e cafés estavam cheias de crianças brincando e andando de bicicleta, enquanto famílias faziam piqueniques sob as tamareiras. Outras pessoas tinham vindo para conhecer a história.

Turki al-Shathri, herdeiro de uma família destacada de clérigos, comentou: “A França foi fundada sobre a revolução, a América, sobre seus fundadores. A Arábia Saudita tem como base a missão do xeque Abdul-Wahhab.”

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