A produção das amendoeiras da Califórnia está em alta há pelo menos uma década e injeta cerca de US$11 bilhões ao ano na economia do estado.
Cobrindo mais de 348 mil hectares, as árvores respondem por mais de 80 por cento do total mundial. O crescimento, porém, coincide com outro fenômeno recorde na região: a seca. E os grandes volumes de água exigidos pela cultura já afetam a política de distribuição da região.
Na área onde se concentram as fazendas, os produtores recebem água de um projeto controlado pelo governo federal cujo maior volume é retirado do rio Sacramento; entretanto, essa fonte é menos confiável por causa das exigências legais que rezam que, em tempos de escassez, os cursos dágua onde ocorre a criação de salmão também devem compartilhar seu fluxo. Os cultivadores, alguns muito ricos, já tentaram mudar as leis através do Congresso, mas não conseguiram. "A amêndoa mudou completamente a distribuição na Califórnia e aumentou a demanda em Central Valley", explica Antonio Rossmann, advogado de Berkeley especializado em questões hídricas.
Os agricultores optaram pela amêndoa porque, enquanto opção permanente, não precisa ser replantada após cada safra e vem roubando o espaço do algodão e da alface por ser mais lucrativa. "Ela faz o uso máximo, e melhor, da terra", afirma Ryan Metzler, 45 anos, produtor de Fresno. O problema não é só que as amêndoas e o pistache outra noz bem popular exigem mais água, mas seus cultivadores não podem simplesmente deixar a terra sem cuidados em ano de estiagem sem perder anos de investimento pesado.
Agora o estado está instaurando um novo tipo de controle sobre as águas para permitir a sobrevivência de muitas plantações ao longo da seca terrível que continua ameaçando a região, apesar das chuvas recentes mas não há garantia de futuro para as propriedades que se encontram mais a oeste, no Vale San Joaquin, por exemplo.
E os agricultores estão determinados a brigar pela água que têm direito para impedir que suas árvores pereçam, principalmente em Westlands Water District, onde quinze por cento dos campos estão cobertos de amendoeiras; há quinze anos eram apenas cinco.
Eles estão irritados com o aumento das restrições ambientais criadas nos anos 90 para ajudar a sobrevivência das espécies de salmão ameaçadas por duas gerações de desvios de água.
"São vinte anos de uma lei que não ajudou em nada a pesca", diz Jason Peltier, superintendente da Westlands Water District, que irriga alguns dos produtores mais ricos do estado.
A ideia de que a legislação ambiental prejudica os produtores ganhou mais força durante os três anos da estiagem mais forte, quando a água fornecida pelo governo federal praticamente se extinguiu. A especialista Kate Poole, do Conselho de Defesa de Recursos Naturais afirma: "É óbvio que excedemos a capacidade de nosso suprimento hídrico, tanto de superfície quanto subterrâneo, para atender à demanda. É preciso mudar a forma de aproveitar a água, expandindo a eficiência urbana e agrícola para cada gota".
As amendoeiras não estão presentes só no Vale San Joaquin, mas em todo o estado. Quem é novo no ramo é Shane Tucker, de 54 anos, que até então financiava projetos agrícolas mas com o objetivo de criar os filhos no campo, decidiu apostar no cultivo em Davis, no Condado de Yolo. E começou com nozes. Há cinco anos ele imaginou que a escassez de água poderia limitar o crescimento da cultura no Vale San Joaquin, mais seco, e que, por isso, os preços iam subir, o que representaria uma vantagem para o pessoal do norte. Plantou amêndoas em 2013 e espera a primeira safra para este ano.
Tucker previu que a água de superfície para irrigação se tornaria cada vez mais escassa nas áreas ao sul do delta, que se encontra a leste da Baía de San Francisco. "O impacto econômico no setor será significativo", afirma. Os produtores nas regiões mais necessitadas do Vale San Joaquin se utilizam de projetos federais ou estaduais criados por volta dos anos 50, mas a seca exigiu cortes radicais em 2013 e 2014, gerando indignação entre os produtores, principalmente os de amêndoas e pistache. "Eles acham que é seu direito o acesso à água. É claro que estão irritados; afinal, seu sustento está sendo ameaçado", conclui Tucker.
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