Um ano depois que um policial de Ferguson, no Missouri (centro dos EUA), matou a tiros Michael Brown, um jovem negro de 18 anos que estava desarmado, a região de St. Louis esteve envolvida em uma difícil discussão sobre raça e classe —e não apenas relacionada à polícia.
Para muitos, uma questão permeia todas as outras: as barreiras que mantêm os negros fora das comunidades prósperas, geralmente brancas, podem ser derrubadas?
Os dados, em geral, sugerem que não. Segundo diversas medidas, a região de St. Louis continua entre os lugares mais segregados do país, onde a maioria dos negros e dos brancos, embora separados apenas por uma curta distância, vivem em mundos diferentes.
Tal é o caso de Ferguson. A parte onde Brown morreu é um bairro predominantemente negro, cujos moradores se queixam do assédio da polícia e da alta criminalidade. A vida é muito diferente a apenas três quilômetros dali, no bairro comercial no centro da cidade, cheio de atrações, cercado por bolsões de bairros afluentes, predominantemente brancos.
Reagindo às preocupações de que as condições nos bairros negros de baixa renda contribuem para os problemas que detonaram as rebeliões após a morte de Brown, a câmara de Ferguson, convocada pelo governador Jay Nixon, propôs medidas para promover a habitação mais integrada, incluindo a implementação de leis de moradia para reduzir práticas discriminatórias de empréstimos.
No entanto, entrevistas com moradores, ativistas e acadêmicos sugerem que uma série de forças que perpetuam a segregação continuam muito presentes.
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Leia a matéria completaUm grande obstáculo para os negros que procuram residências em comunidades mais brancas, segundo os defensores da moradia justa, é que muitos proprietários não aceitam os bônus da Seção 8, subsídio federal para pessoas de baixa renda.
Recusar-se a aceitar os bônus é legal na maioria dos lugares e contribuiu para a concentração dos cidadãos negros em comunidades pobres, dizem especialistas em habitação.
A cidade de St. Louis aprovou um decreto neste ano que basicamente proíbe os senhorios de discriminarem com base na Seção 8. O condado não tem esse decreto, e a câmara de Ferguson recomendou que o Legislativo aprove uma medida estadual.
Os negros hoje lutam para conseguir financiamento, dizem especialistas. Mesmo levando-se em conta a renda, os brancos são aprovados para empréstimos habitacionais em maior porcentagem que os negros no condado de St. Louis, segundo dados de 2012.
O bônus da Seção 8 paga uma certa quantia para o aluguel de uma família com base em um índice de mercado calculado pelo Departamento da Habitação e Desenvolvimento Urbano, do governo federal. A família deve contribuir com algum dinheiro para o aluguel, geralmente cerca de 30% da renda familiar. Assim como em outras áreas metropolitanas, as partes da região de St. Louis de maior renda tendem a ter aluguéis altos demais para que o bônus os cubram. Isso muitas vezes deixa as propriedades em bairros pobres como única opção para os que recebem bônus.
A disparidade nos valores das propriedades entre comunidades negras e brancas também tende a empurrar o desenvolvimento da habitação subsidiada para locais mais pobres. Além disso, o governo federal realmente dá maiores incentivos financeiros à construção de moradias de valor acessível em bairros de baixa renda.
No entanto, as empreiteiras e os defensores da habitação dizem que há outra grande barreira social para se levar as famílias de baixa renda para bairros melhores —a resistência das pessoas que já vivem neles.
Um relatório preparado para o condado de St. Louis em dezembro passado, que analisa os empecilhos à habitação justa, descobriu que “alguns moradores da área do estudo têm fortes sentimentos contra esse tipo de vizinhos, assim como atitudes preconceituosas contra pessoas de baixa renda, as que residem em moradias subsidiadas e as minorias étnicas/raciais”.
Três quartos dos inquilinos da Seção 8 na região de St. Louis vivem na parte norte da cidade ou do condado, apesar de ela ter uma população total menor que a da região sul.
Colin Gordon, professor da Universidade de Iowa e autor do livro “Mapping Decline”, que estuda a história urbana de St. Louis, disse: “Apesar de os mecanismos de segregação visíveis estarem contidos hoje, você acaba com um mercado habitacional espacialmente dividido, em que negros não conseguem pagar para viver no mesmo local em que moram os brancos”.
Colaborou Sarah Cohen
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