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Sem crescer, a América do Sul tenta evitar a depressão

Queda do preço do petróleo prejudica a Venezuela, commodity responsável por 95 por cento de suas receitas de exportação em 2013. Um trabalhador de prospecção perto do Lago de Maracaibo | Meridith Kohut para The New York Times
Queda do preço do petróleo prejudica a Venezuela, commodity responsável por 95 por cento de suas receitas de exportação em 2013. Um trabalhador de prospecção perto do Lago de Maracaibo (Foto: Meridith Kohut para The New York Times)

O presidente da Venezuela pede cortes no orçamento, agora que a queda dos preços do petróleo diminuiu a entrada de dinheiro da exportação. O Peru relaxa normas ambientais para abrir caminho para grandes projetos de mineração na esperança de aumentar a produção face à queda dos preços de cobre, ouro e outros metais. No Brasil, país que sofre com a queda dos preços das exportações de ferro e soja, um novo ministério orientado para o mercado prevê cortes de gastos e eliminação de incentivos fiscais.

Durante uma década, o continente foi transformado pelo crescimento econômico sustentado e reduções históricas da pobreza, impulsionado pela alta dos preços de commodities abundantes da região, incluindo petróleo, gás natural, cobre, ouro, ferro, soja e milho.

Mas agora que o boom acabou, os preços desses produtos estão caindo e há muita dúvida na região. Os bons tempos serão seguidos pela depressão, como o que aconteceu diversas vezes ao longo das décadas? Os governos irão reagir como fizeram antes, aumentando as dívidas e ignorando os sinais de perigo?

Ou as coisas serão diferentes?

José Antonio Ocampo, ex-ministro da Fazenda da Colômbia e que hoje é professor na Universidade Columbia, em Nova York, disse que muitos países da região estão melhor posicionados agora.

A medida mais importante em toda a região, ele disse, é que a razão entre a dívida externa e as reservas externas está em uma baixa histórica.

"A América Latina tem menos dívidas e mais reservas, menos passivos e mais ativos", disse ele. Isso dá aos países uma maior capacidade de emprestar dinheiro para superar deficiências ou bancar medidas de estímulo do governo.

Muitos países também construíram instituições mais fortes, como os bancos centrais e reguladores bancários, enquanto ministros da área econômica são frequentemente mais bem preparados e, espera-se, capazes de tirar proveito da compreensão dos erros do passado.

Jorge Familiar, vice-presidente do Banco Mundial para América Latina e o Caribe, disse que "dez ou quinze anos atrás, estaríamos falando sobre o gerenciamento da crise e agora o assunto é estratégia de crescimento".

No Brasil, após anos de crescimento e redução da pobreza, a economia estagnou. Os preços de alguns de seus principais produtos de exportação, incluindo minério de ferro e soja, caíram.

A presidente Dilma Rousseff, reeleita para um segundo mandato em outubro por um partido de esquerda, tem sinalizado que fará do crescimento econômico uma prioridade em seu novo mandato, escolhendo uma equipe vista como sendo pró-negócios.

Há uma chance de sucesso, Ocampo disse, porque o Brasil desenvolveu um setor de manufatura grande que poderia ser o beneficiário da nova realidade econômica da região. Quando os preços das commodities são elevados, as moedas dos países exportadores tendem a se valorizar. Isso pode prejudicar o setor industrial, pois uma moeda mais forte significa que bens manufaturados exportados ficam mais caros para os compradores estrangeiros. O valor das moedas está caindo agora.

No Peru, que dependia fortemente da mineração para seu crescimento anual de mais de seis por cento entre 2002 e 2012, parte da nova estratégia do governo é agilizar ou diminuir regulamentações ambientais.

"Ficou mais barato poluir", disse Ricardo Giesecke, ex-ministro do Meio Ambiente e crítico das mudanças.

Com os atuais baixos preços dos metais, o Banco Central do Peru prevê que a economia cresça apenas três por cento este ano. Alonso Segura, ministro da Fazenda peruano, disse que as medidas ambientais devem ajudar o crescimento econômico do país. Projetos de infraestrutura, como uma linha de trem para transporte em massa em Lima e um gasoduto no sul do país, também irão gerar empregos.

Talvez nenhum país seja mais complicado que a Venezuela, que, em 2013, recebeu mais de 95 por cento de suas receitas de exportação com o petróleo. Mas os preços vêm caindo desde meados de 2014. O presidente Nicolás Maduro disse recentemente que a queda havia cortado em cerca de um terço o rendimento de divisas para o país.

A economia venezuelana já estava mal antes da queda de preços do petróleo, com uma inflação de mais de 60 por cento. Agora a maioria dos economistas acredita que o país esteja em recessão.

Sua economia também é onerada por controles de preços, uma moeda sobrevalorizada e um banco central que vem imprimindo grande quantidade de dinheiro.

Ao mesmo tempo, o rendimento dos títulos do país subiram, sinal de que os investidores estão preocupados com um possível padrão. Maduro disse que isso não irá acontecer e muitos economistas dizem que é improvável.

Porém, Maduro apenas aguçou o receio dos investidores, atribuindo os problemas do país aos inimigos em uma "guerra econômica". Não se sabe se eles se acalmaram quando Maduro disse em discurso recente que em 2015 colocaria de lado a maioria de suas outras obrigações para se concentrar exclusivamente na economia.

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