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Larva leptocéfala de enguia | sÖnke johnsen/duke
Larva leptocéfala de enguia| Foto: sÖnke johnsen/duke
  • Hippopodius hippopus, Japatella diaphana e Orchistoma pileus

Os oceanos, que compõem mais de 90% do espaço habitável da Terra, estão cheios de animais quase invisíveis. Para ilustrar o porquê disso, o professor de biologia Sönke Johnsen, da Universidade Duke no Estado da Carolina do Norte, iniciou uma palestra recente pintando um cenário macabro. Imaginou que um homem armado irrompesse no recinto naquele momento, atirando contra os presentes. Naturalmente, as pessoas correriam para esconder-se atrás de cadeiras e paredes.

O que o professor Johnsen quis ilustrar era que haveria lugares onde poderiam tentar se esconder. Em terra, muitos animais se camuflam entre folhagens e em outros ambientes; nas águas costeiras, animais marinhos se confundem com a areia ou se escondem entre corais e pedras. Mas, no oceano profundo, animais que flutuam na água não têm onde buscar refúgio.

A transparência é a estratégia mais óbvia a seguir. Johnsen começou a pesquisá-la há quase 20 anos atrás.

A transparência não é uma simples falta de pigmentação. Johnsen observa que os albinos não são invisíveis; em vez disso, o corpo inteiro precisa absorver ou dispersar o mínimo possível de luz.

A dispersão é um problema. Quando a luz penetra um material com índice de refração diferente, sendo o índice de refração muitas vezes proporcional à densidade, parte da luz se reflete e parte dela se dobra. Isso explica por que seria dificílimo encontrar uma vaca ou um pombo transparentes: a densidade do ar é tão menor que a da carne que mesmo um animal terrestre transparente provavelmente poderia ser visto facilmente graças a seus reflexos.

A água é muito mais densa que o ar, e os tecidos corporais têm densidade aproximadamente igual à da água, o que reduz muito a quantidade de dispersão. Mas alguns órgãos são mais densos que outros, e os animais transparentes têm seus órgãos internos dispostos de modo diferente, de modo a minimizar os reflexos.

As medições feitas por Johnsen dos animais transparentes que ele trouxe das profundezas mostraram que entre 20% e 90% da luz os atravessa sem ser perturbada. "Seria possível ler um livro que estivesse do outro lado desses animais", ele comenta.

Mas a transparência pode complicar a vida. Os animais transparentes que vivem perto da superfície podem ser queimados pelo sol, não apenas em sua pele, mas em seu interior. Para proteger-se da luz ultravioleta, "esses sujeitos basicamente têm protetor solar em seus tecidos transparentes", disse Johnsen.

A evolução criou dois outros recursos de invisibilidade: espelhos e lâmpadas biológicas.

Para procurar seu alimento, alguns predadores procuram silhuetas ao alto. "Vemos muitos animais com olhos voltados para o alto. Até a lula tem um olho grande voltado para cima e um olho ‘normal’ que olha para o lado", disse Steven Haddock, cientista do Instituto de Pesquisas do Aquário Monterey Bay, na Califórnia.

As laterais prateadas de peixes como arenques e sardinhas são sistemas de espelhos: eles refletem a luz que vai para baixo, do mesmo modo como uma parte do céu às vezes é refletida por um arranha-céu envidraçado.

A terceira estratégia, chamada contrailuminação, também procura imitar a luz que vai para baixo. Mas, em vez de espelhos, o animal gera seu próprio brilho, como fazem os vagalumes, com fotóforos, órgãos produtores de luz.

Os animais que empregam a contrailuminação se certificam de que a luz que produzem seja voltada para baixo.

Alguns animais desenvolveram maneiras de derrotar a camuflagem. Os olhos de algumas espécies de lulas e camarões conseguem diferenciar entre as polarizações de luz, algo que muitos insetos conseguem, mas que pessoas não são capazes de fazer sem a óculos de sol polarizados.

Os fótons, ou partículas de luz, podem ser visualizados como setas com nadadeiras caudais que representam os campos magnéticos e elétricos oscilantes, e a polarização representa a orientação dos campos. Aos olhos humanos, a cor da luz refletida não muda. Quando é refletida, o ângulo de polarização muda.

À medida que o sol se desloca pelo céu, a polarização da luz que filtra até as profundezas muda, e, para um olho sensível, um peixe espelhado de repente aparece.

"Vivemos cercados por um mundo inteiramente misterioso", disse Johnsen. "E o fato de que não podemos enxergá-lo faz com que o ignoremos."

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