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 | Thomas Patterson para The New York Times
| Foto: Thomas Patterson para The New York Times

Um sem-teto chamado Daniel estava lendo um romance de Barbara Kingsolver quando sua mochila foi roubada e Laura Moulton quis fazer alguma coisa a respeito.

A professora de Redação Criativa de 44 anos não sabia o sobrenome do rapaz, nem sua idade, nem exatamente como encontrá-lo, pois só o tinha visto uma vez; mas sabia qual era o livro, "Verão Pródigo", o que já era um começo. Com uma nova cópia na mão, lá foi ela.

Essa é a vida dos bibliotecários da Street Books, um serviço sem fins lucrativos à base da pedalada para "aqueles que vivem à margem", como descreve Laura, a fundadora da iniciativa.

E ela se encaixa perfeitamente em Portland, cidade liberal que valoriza as causas sociais, tem uma cultura literária rica e apoia o uso incondicional da bicicleta.

"O Daniel está por aí?", ela perguntou a uma cliente, pouco depois de ter montado no triciclo da Street Books.

Leitora de biografias e ensaios, Laura King, de 41 anos, vinha saindo de uma área cheia de barracas e balançou a cabeça.

"Tenho um livro para ele, será que posso deixar com você?", perguntou Laura. Sua xará deu de ombros e disse: "Se acontecer alguma coisa ou eu não o encontrar, eu devolvo".

A resposta da bibliotecária, que estendeu a mão com o livro que tinha comprado aquela manhã, foi típica: "Enquanto isso, você também pode ler", disse.

O elemento que liga a Street Books ao mundo real é o fato de que os moradores da cidade são leitores contumazes. Entre todas as bibliotecas dos EUA, a de Multnomah tem a terceira maior circulação do país.

Para começar o projeto, Laura pretendia arrecadar US$4 mil no site Kickstarter, em 2011; conseguiu US$5.345. Recebeu também uma doação de US$1 mil da Fundação Awesome, grupo que investe em "artes, ciências e no avanço da grandeza pelo universo".

Os bibliotecários – três empregados, incluindo Laura, que recebem US$60/semana por um turno de três horas – enchem os carrinhos baseados no próprio gosto e no dos "clientes".

Diana Rempe, psicóloga de 48 anos que concluiu o doutorado há pouco tempo, pedala uma tarde por semana, parando no local de reunião de mão de obra avulsa na região leste da cidade, onde se reúnem muitos mexicanos e latino-americanos que esperam ser contratados. Ela leva títulos em espanhol. (A façanha de que mais tem orgulho foi conseguir uma raridade sobre movimentos de xadrez para dois cubanos.)

"Não é só uma novidade do tipo, ‘Ah, que gracinha, é a cara de Portland’. É muito mais que isso", enfatiza. Levar livros para as ruas mostra que os pobres e marginalizados não são diferentes do "nós" que define os estudados e cultos da cidade, sejam eles hipsters, geeks ou banqueiros.

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