O smartphone russo YotaPhone 2 foi lançado em abril; no ano passado, o presidente Putin decidiu estimular a inovação no país| Foto: James Hill /The New York Times

Poucas pessoas que pretendem comprar um smartphone pensariam em um modelo russo, mas os fabricantes do YotaPhone querem mudar isso.

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A missão da start-up de entrar no mercado global de celulares recebeu um empurrão do presidente Vladimir Putin, que deu um novo estímulo para fazer da inovação a próxima grande alavanca para a debilitada economia do país.

A própria ideia de um “objeto de consumo russo inovador” tende a provocar piadas. Depois de jogar fora o núcleo do planejamento central soviético, a Rússia não conseguiu traduzir sua riqueza de talento científico e de engenharia em produtos competitivos e comercializáveis, e muitos cientistas partiram para o Ocidente.

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Dmitri Medvedev, que foi presidente entre os dois mandatos de Putin, promoveu um projeto de US$ 4 bilhões para criar um Vale do Silício russo no subúrbio de Moscou. A partir de 2009, uma universidade de pesquisa tecnológica e uma fundação de inovação financiadas pelo Estado foram criadas sob a tutela do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).

Elas nunca floresceram, e Putin demonstrou pouco interesse pelo projeto. No ano passado, entretanto, ele ressuscitou a inovação como objetivo-chave depois que a crise na Ucrânia provocou sanções econômicas do Ocidente. Putin disse que as atuais tensões vão libertar a Rússia dos produtos e da tecnologia ocidentais.

O criador do telefone, Vladislav Martynov, 45, trabalhava no exterior quando um amigo o chamou de volta a Moscou em 2008, com a ideia de produzir um smartphone. Embora inspirado por desenvolvedores de software russos talentosos, Martynov adotou um dos principais preceitos da globalização: poucos produtos surgem somente de um país. “Hoje, não há nacionalidade quando se cria um produto globalmente competitivo no setor de alta tecnologia.”

Os cerca de cem empregados do projeto YotaPhone incluem engenheiros de software na Rússia, designers de hardware na Finlândia e engenheiros multinacionais que estabeleceram a linha de produção em Singapura.

O protótipo do YotaPhone lançado em 2012 impressionou com seu design de duas telas, em que uma face funciona como um smartphone padrão e a outra como um leitor de livros eletrônico. A segunda tela suporta diversas funções sem esgotar a bateria, como manter um cartão de embarque à mão.

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Em abril, Martynov conduziu uma entrevista coletiva lotada para lançar uma versão branca do YotaPhone 2, esperando criar o tipo de charme “e vendas” que se mostra elusivo, mesmo na Rússia. O maior aplauso foi para a apresentação de uma linha de capas de borracha coloridas. Antes, derrubar um YotaPhone significava quebrá-lo.

Isso salientou um problema crítico que afeta os novos produtos russos: os desenvolvedores tendem a trabalhar isoladamente. Martynov apelou para que eles criem aplicativos para a segunda tela. Hoje são aproximadamente 40, disse, comparados a cerca de um milhão do iPhone.

Muitos especialistas atribuem o problema de inovação à extinta URSS. A atitude de que a mudança começa com uma ordem do topo persiste. Além disso, o governo não aceita a globalização. Quando Medvedev recebeu um dos primeiros YotaPhones, perguntou quando começaria a produção na Rússia.

Encontrar investidores locais não é fácil. O capitalismo privado é considerado arriscado demais, e o fracasso seria um resultado inaceitável para qualquer coisa financiada pelo governo. “Os russos são muito céticos sobre si mesmos e sua capacidade de criar algo bom”, disse Martynov.