As rochas na vinícola VIK, projetada por Radic, conferem um tom primitivo| Foto: Cristobal Palma

Em junho, uma cápsula transparente de fibra de vidro, colocada sobre enormes rochedos de arenito, apareceu nos Jardins de Kensington, em Londres. A extravagância, que um crítico descreveu como "uma colisão entre um ovo extraterreste e um cemitério neolítico", é obra do arquiteto chileno Smiljan Radic, escolhido pela galeria Serpentine para criar uma estrutura temporária em seu jardim principal, no que se transformou em um ritual anual de verão.

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Apesar de ter ganhado projeção internacional com o projeto, Radic, 49, passou a maior parte da carreira em sua terra natal, discretamente construindo uma obra diversificada e intrigante, que reflete seu interesse pela forma, o material e o significado.

Sua Casa para o Poema do Ângulo Reto, evocando os escritos de Le Corbusier, tem cones decepados destacando-se a partir do teto e emoldurando a visão das árvores do entorno. Para um restaurante em Santiago, ele usou rochedos de granito como colunas, sustentando uma laje preta de concreto no teto.

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A vinícola VIK está localizada em uma propriedade de 4.400 hectares ao sul de Santiago. O pátio frontal da vinícola é um espelho d’água em declive, com leves ondas, atravessado por passarelas de concreto; grandes pedras estão espalhadas sobre as águas, como se algum gigante estivesse jogando bolinhas de gude. Atrás do pátio, um toldo de tecido curva-se sobre a vinícola. Radic conversou por telefone e e-mail a respeito desse projeto (a entrevista foi editada e resumida).

P. O projeto parece ser tanto de paisagismo como de arquitetura.

R. A paisagem no Chile é muito bonita, então o desafio é sempre não se sobrepor a ela. Fizemos um prédio subterrâneo para economizar energia e manter a temperatura estável para o vinho. Mas também foi para preservar a paisagem. É possível ver as montanhas com neve nos picos através do edifício.

P. Fale sobre o espelho d’água.

R. Tem paredes em ambos os lados, então é como estar em um espaço interno, mas na verdade em um espaço exterior. A água ajuda a manter fria a sala dos barris, que está abaixo. À medida que a água se movimenta, as ondas produzem sons, como uma cachoeira. É uma atmosfera relaxante.

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P. O sr. já usou o termo "arquitetura da rocha" para o seu trabalho. Que tipo de interesse o sr. tem pelas rochas?

R. Elas são fortes, e passam uma sensação de primitivo, de tempo, porque estão desgastadas e existem há muito tempo. Dependendo de como são usadas, é possível transferir essa sensação para o novo prédio.

P. O sr. toma vinho?

R. Todo mundo acha que, só porque projetei uma vinícola, entendo muito de vinho, mas na verdade, não. O vinho que eles produzem aqui [na VIK] tem um sabor...como eu posso dizer? Elegante. Eu me sinto bem ao bebê-lo. Não posso dizer nada mais além disso.