Em um quintal, pequenas aves voam em volta do alimentador — Poecile atricapillus, Poecile gambeli, Sitta canadensis. Eles ignoravam um estranho poleiro nas proximidades, coberto por uma cortina.
Erick Greene, professor de Biologia da Universidade de Montana, se afastou do poleiro e se aproximou da porta da casa. Ele pressionou o botão de um controle remoto. A cortina caiu, revelando uma coruja empalhada. Sua cabeça robótica movia-se de um lado para o outro.
Tudo ficou em silêncio, mas logo em seguida, o burburinho começou. Logo, várias aves vieram de toda a vizinhança para enfeitar os galhos de uma árvore ao lado da coruja, todas piando e cantando.
Enquanto um gravador capturava todo o barulho, o responsável sorriu com prazer. “Para os pássaros, isto é como um motim”, disse Greene.
Estudos recentes feitos por vários pesquisadores, incluindo Greene, demonstram que animais como aves, mamíferos e até peixes reconhecem os sinais de alarme de outras espécies. Um pássaro ouvia o outro. Dezenas de outros ouviam os Baeolophus bicolor. Esquilos olhavam para as aves, às vezes adicionando seus próprios pensamentos. Na África, macacos vervet reconhecem alertas dados pelos estorninhos.
Greene diz que quer entender melhor as nuances desses alarmes dos pássaros. Seu palpite é que as aves dizem muito mais do que suspeitamos, e que algumas espécies evoluíram para decodificar e entender esses sinais.
Em seu laboratório, Greene reproduz a gravação da balbúrdia causada pela coruja em um computador. Os chamados apareceram como um espectrograma — essencialmente uma notação musical. Os sons duram apenas alguns segundos, mas podem ter até uma dúzia de sílabas cada.
“É um equipamento de ponta,” disse Jesse Barber, professor assistente na Universidade Estadual de Boise, em Idaho que estuda acústica animal. Greene examina a comunicação “no próprio habitat e é realmente aí que a pesquisa precisa ir. É uma nova fronteira para a pesquisa da comunicação animal”, acrescentou Barber.
O interesse de Greene nos alarmes sutis dos pássaros começou há vários anos, quando estudava a espécie Passerina amoena. Às vezes, esses passarinhos paravam de responder aos apelos artificiais que ele transmitia e se escondiam nos arbustos. “E depois, quatro ou cinco minutos mais tarde, um falcão-de-coleira” — um grande predador de aves — “sobrevoava a área”, ele disse. Claramente, algum alerta se espalhou entre eles.
Os alertas, piados produzidos por muitos pássaros canoros em resposta a uma ave de rapina, são bem conhecidos dos ornitólogos. Acreditava-se que os chamados se dissipavam rapidamente e eram produzidos apenas para outras aves próximas. No entanto, não foi o que Greene notou: piados distantes faziam os pássaros se refugiarem em arbustos.
Ele documentou um “sistema de alerta precoce à distancia” entre as aves, com o qual o chamado era continuado por outras aves e atravessava a floresta a mais de 160 quilômetros por hora.
Aves de rapina ouvem bem em baixas frequências, mas não as que ficam entre 6 e 10 kHz, a maior frequência na qual os alertas são produzidos. “É um tipo de canal privado”, ele disse.
Greene começou a pesquisar os Poecile. Quando um deles vê um predador empoleirado nas proximidades, vai emitir seu chamado, conhecido como alerta de união — um som alto, frequente e estridente —, porque seu objetivo é atrair outros pássaros e atacar o inimigo até que ele se afaste.
Greene demonstrou como esses pássaros adicionam informações sobre o tamanho dos predadores nesses chamados. Quando confrontados com uma ave mais ameaçadora, seus chamados não só são mais frequentes, mas também mais estridentes.
Aves de rapina são normalmente a maior ameaça para as aves mais próximas e do mesmo tamanho, porque sabem lidar com a maneabilidade de suas presas. Então um grande açor só receberá um chamado simples, enquanto aquela pequena coruja irá provocar um alerta com cinco ou até mesmo 12 sílabas adicionais, disse Greene.
Os Sitta canadensis, que são do mesmo tamanho dos Poecile e frequentemente se reúnem a eles no inverno, também prestam atenção aos alarmes.
Greene constatou que “esquilos entendem a língua dos pássaros, e os pássaros entendem a dos esquilos”. Quando os esquilos ouvem um alerta anunciando uma ave de rapina sobrevoando, ou quando eles veem uma delas, emitem sons que são acusticamente “quase idênticos” aos dos pássaros, disse Greene.
Ele mostrou no espectrograma o som do alarme em resposta à coruja.
“Todas estas notas são acusticamente muito diferentes, e podem ter significados diferentes. O som que os humanos ouvem como um simples piado, na verdade pode conter informações que diferenciam entre um falcão-de-coleira e uma coruja. Sabemos que os pássaros ouvem isso como se o som fosse mais lento.”