Até onde vai a interação entre computadores e humanos? Nos últimos anos, os cientistas se empenham em programar máquinas para ler as expressões faciais. As aplicações práticas podem ser profundas. Computadores poderão complementar ou mesmo substituir detectores de mentira. Poderão ser instalados em verificações de segurança nos aeroportos e servir para auxiliar diagnóstico médico para médicos.
Pesquisadores da Universidade da Califórnia, em San Diego, criaram um software que não só detectou se a dor expressa no rosto de uma pessoa era genuína ou falsa como também fazia isso com mais precisão do que os humanos.
Essa pode ser a primeira vez que um computador triunfa sobre os seres humanos na leitura da sua própria espécie. "Um sucesso como este em particular vinha sendo difícil de alcançar", disse Matthew Turk, professor da Universidade da Califórnia, em Santa Barbara. "É um dos vários exemplos recentes de como esse campo está agora produzindo tecnologias úteis, em vez de pesquisas que ficam só no laboratório."
As pessoas geralmente dominam o uso de sinais não verbais para enganar os outros. Elas são boas em imitar dor, sabendo instintivamente como contorcer seu semblante para transmitir desconforto físico.
E as outras pessoas, conforme mostram os estudos, geralmente falham em detectar as fraudes.
Em um novo estudo publicado na revista "Current Biology", de autoria de pesquisadores de San Diego, da Universidade de Toronto e da Universidade Estadual de Nova York, em Buffalo, seres humanos e um computador foram apresentados a vídeos de pessoas com dor real ou fingida. O computador as distinguiu com maior precisão, a partir de padrões sutis de movimentos no rosto dos participantes. "Nós temos uma boa quantidade de indícios que mostram que os seres humanos prestam atenção aos sinais errados", disse Marian Bartlett, principal autora do estudo.
Para esse trabalho, os pesquisadores utilizaram um protocolo padrão para a produção de dor, com pessoas mergulhando o braço em água gelada por um minuto. Os pesquisadores também pediram aos indivíduos para mergulharem o braço em água morna por um momento e fingir uma expressão de dor. Os observadores assistiram a vídeos silenciosos de um minuto daqueles rostos, tentando identificar quem estava com dor e quem estava fingindo. Apenas cerca de metade das respostas foi correta, uma taxa comparável à do mero chute.
Os pesquisadores deram uma hora de treinamento a um novo grupo de observadores. Em seguida, os observadores foram chamados a julgar. Mas o treinamento não influiu: o índice de precisão quase não melhorou, chegando a 55%.
Quando um computador assumiu a tarefa usando um programa que os pesquisadores de San Diego chamaram de Cert (caixa de ferramentas para o reconhecimento de expressões por computador, na sigla em inglês), ele passou a medir a presença, ausência ou frequência de 20 movimentos musculares faciais. O computador avaliou os mesmos 50 vídeos mostrados aos observadores humanos do primeiro grupo, que não tinham treinamento algum.
A máquina aprendeu a identificar pistas que escapavam ao olho humano, sendo capaz de detectar a velocidade, a suavidade e a duração das contrações musculares que indicam haver ou não fingimento. Sua precisão foi de cerca de 85%. Jeffrey Cohn, professor de psicologia da Universidade de Pittsburgh observou que seus colegas vêm trabalhando com o departamento de psiquiatria da universidade, com foco na depressão grave. Um dos projetos é o de um computador que identifique mudanças de padrão nos sons vocais e expressões faciais ao longo do tratamento de um paciente, como forma de auxílio objetivo ao terapeuta. "Descobrimos que a depressão nos músculos faciais atende à função de sinalizar me deixe em paz", disse Cohn. Os sorrisos de boca fechada do deprimido grave, segundo ele, estavam tingidos de desprezo ou aversão.
"À medida que eles se tornam menos deprimidos, seus rostos demonstram mais tristeza". Essas expressões revelam que o paciente está implicitamente pedindo consolo e ajuda, acrescentou.
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