Quando Arnaud Bertrand participou em 2009 da criação do HouseTrip, site de aluguel de imóveis por temporada, seu objetivo era construir um rival europeu para o Airbnb, na época uma start-up com um ano de idade.
A partir de sua sede no centro de Londres, o HouseTrip rapidamente angariou quase US$ 60 milhões entre investidores privados, expandiu-se para mais de 30 países e contratou mais de cem pessoas, de Londres a Lisboa. A proposta era conectar viajantes com pessoas que desejassem alugar suas casas. “O foco desde o primeiro dia foi a Europa”, disse Bertrand, 30.
Mas, ao longo dos últimos seis anos, o HouseTrip se viu em dificuldades para concorrer com o Airbnb. E, como muitas outras start-ups europeias que tentam enfrentar grandes rivais americanas com ambições internacionais, o HouseTrip agora tenta garimpar mercados menores.
O Airbnb tinha uma clara vantagem: dinheiro, e muito. Com sede em San Francisco, ele rapidamente obteve amplo acesso a capitalistas radicados no vizinho Vale do Silício, incluindo o fundo Sequoia Capital. Jeff Bezos, bilionário fundador da Amazon, também investiu. Até agora, o Airbnb já obteve quase US$ 800 milhões em financiamento, permitindo que a empresa alcance um valor estimado de US$ 13 bilhões.
É esse tipo de dinheiro que permite às start-ups americanas partir quase imediatamente para empreitadas globais, enfrentando e muitas vezes superando concorrentes europeus.
Outra empresa de San Francisco, o Uber, que agencia caronas, angariou quase US$ 5 bilhões, em grande parte de fundos de investimento americanos. O dinheiro levou o Uber, aos seis anos de idade, a ter uma valorização de US$ 41,2 bilhões e proeminência global.
Ao mesmo tempo, o Snapchat, serviço de fotomensagens por celular criado por alunos da Universidade de Stanford (no coração do Vale do Silício), recebeu US$ 650 milhões em financiamento privado.
“Há uma conscientização muito maior entre as start-ups dos EUA sobre a importância da expansão global”, disse Eileen Burbidge, sócia da empresa de investimentos de risco Passion Capital, de Londres.
Com a melhora na economia dos EUA, a Europa está ficando cada vez mais para trás nesses investimentos. Muitos empresários europeus do setor tecnológico estão atualmente dando uma orientação mais local às suas start-ups ou tentando cavar nichos.
Não é que as start-ups europeias sejam pobres. Algumas, como o Spotify, serviço de streaming de música, e a Mojang, empresa sueca por trás do jogo Minecraft, recentemente adquirida pela Microsoft por US$ 2,5 bilhões, tornaram-se campeãs mundiais por seu próprio mérito.
Na verdade, as start-ups europeias arrecadaram cerca de US$ 7,6 bilhões no ano passado, um salto de 41% sobre 2013, segundo o serviço de fornecimento de dados Dow Jones VentureSource.
Mas isso representou apenas um quinto do valor captado por empresas americanas de tecnologia, que juntas obtiveram US$ 37,9 bilhões em 2014, um aumento superior a 30% em relação a 2013.
E este ano começou de forma tão estrondosa em termos de financiamentos para o setor tecnológico dos EUA que alguns especialistas já alertam para uma bolha. Em janeiro, o Uber anunciou que havia recebido mais uma bolada de US$ 1,6 bilhão proveniente de clientes da unidade de gestão de fortunas do Goldman Sachs.
“O mundo mudou de maneira incomparável quando alguém como o Uber consegue arrecadar alguns bilhões de dólares quase da noite para o dia”, disse Sonali De Rycker, sócio da firma de investimentos de risco Accel Partners, em Londres.
Os empresários europeus até certo ponto causaram o ataque americano. Antigamente, os empreendedores dos EUA consideravam a expansão internacional secundária em relação ao crescimento interno.
Mas o surgimento de empresas “genéricas” mundo afora estimulou os americanos a investirem no exterior antes que os seus rivais locais se fortalecessem.
“Se você tem um negócio que funciona, precisa se tornar global o mais rapidamente possível”, disse Ben Holmes, sócio da Index Ventures, que bancou o serviço de armazenamento de arquivos Dropbox, com sede em San Francisco, hoje avaliado em US$ 10 bilhões.
Copiar a oferta de um grande concorrente americano nunca foi a ideia do empreendedor alemão Florian Meissner, de Berlim. O aplicativo de fotos para celulares EyeEm, do qual ele é um dos criadores, funciona de forma semelhante ao Instagram, mas é destinado a um público mais restrito.
O EyeEm, lançado em 2011, moldou seu aplicativo para atender a fotógrafos dedicados, que desejam compartilhar fotos com qualidade profissional em seus smartphones. O EyeEm diz que seu número de usuários equivale a cerca de 5% dos 300 milhões do Instagram no mundo todo. Para Meissner, sua empresa deu certo pois ela sempre evitou se tornar um mero genérico do Instagram.