Em 2005, o Google comprou uma pequena empresa de software chamada Android.
Quase ninguém no setor de tecnologia viu seu potencial —nem mesmo Eric Schmidt, presidente do Google.
“Um dia, Larry e Sergey compraram a Android, e eu nem percebi”, disse Schmidt à imprensa em 2009, referindo-se a Larry Page e Sergey Brin, fundadores do Google.
Era uma piada. A Android teria custado pelo menos US$ 50 milhões, quantia grande o suficiente para que o chefe estivesse envolvido. Mas a piada sugere como os executivos do Google tinham pouca consideração pelo software que fazia funcionar smartphones, tablets e outros aparelhos.
Em uma era dominada por computadores portáteis, porém, a Android tornou-se essencial para o futuro do Google. É o sistema operacional para smartphones mais popular do mundo. Mais de um bilhão de equipamentos Android foram vendidos em 2014. Quase um em cada dois computadores vendidos hoje roda com Android.
Apesar disso, o Google pode estar perdendo o domínio do sistema operacional. A Android enfrenta uma competição cada vez maior, como de fabricantes de smartphones em países em desenvolvimento, que promovem versões modificadas do software.
Há também ameaças da Apple, que disse que seu recente recorde de vendas do iPhone ocorreu em parte graças a consumidores que estão migrando do Android.
Apesar do aumento das vendas, os lucros no negócio de smartphones Android caiu 44% em 2014, segundo a analista independente Chetan Sharma.
No Natal do ano passado, a Apple captou quase 90% dos lucros do setor de smartphones.
O Google enfrenta muitas dores de cabeça relacionadas ao Android.
Primeiro, enquanto o Google tira a maior parte de suas receitas da publicidade, o Android até agora não teve sucesso comparado ao iOS da Apple, cujos usuários tendem a ter mais dinheiro e a passar mais tempo em seus telefones (ou seja, são mais valiosos para os anunciantes).
Como o Google paga bilhões para a Apple usar sua máquina de buscas como padrão nos dispositivos com iOS, a companhia recebe muito mais de anúncios colocados em equipamentos Apple do que de anúncios em dispositivos Android. Estima-se que o Google tenha recebido cerca de US$ 11,8 bilhões de anúncios em buscas em celulares em 2014, com cerca de 75% vindos de anúncios em iPhones e iPads.
Um ponto mais luminoso para o Google é a receita das vendas na loja de aplicativos Android, a Google Play. Em 2014, vendeu cerca de US$ 10 bilhões em apps, dos quais a Google ficou com cerca de US$ 3 bilhões (o restante foi pago aos desenvolvedores).
As vendas na App Store, da Apple, superaram US$ 14 bilhões em 2014.
A receita de apps do Google está crescendo, e a empresa investe para garantir que continue assim. Purnima Kochikar, diretora de desenvolvimento de negócios da Google Play, disse que sua equipe de apoio aos criadores de apps Android cresceu “15 vezes” nos últimos dois anos e meio.
A estratégia do Google de dar o Android de graça aos fabricantes de telefones levou a um surto de novatos no setor de telefones, vários dos quais vendem aparelhos de alta qualidade por preços reduzidos. Como essas start-ups não têm muito lucro com a venda de telefones, buscam ganhar dinheiro em apps que oferecem serviços que concorrem com apps do Google.
A situação é especialmente dolorosa para o Google na China, onde seus apps estão bloqueados. Mesmo no resto da Ásia, onde fabricantes de telefones incluem apps Google, há um interesse crescente em encontrar uma alternativa para a versão Google do Android.
Para abordar esse problema, a companhia lançou o programa Android One, que coloca seus serviços em telefones de alta qualidade e baixo preço no mundo em desenvolvimento.
A ameaça final pode ser a mais perniciosa: pessoas que adotaram o Android como seu primeiro smartphone estão mudando para algo diferente.
A longo prazo, é um caminho terrível para o Google —perder o topo do mercado de smartphones para o iPhone, enquanto a extremidade inferior sofre maior ameaça de atores não cooperantes do Android.
O Android sempre foi uma estratégia delicada. Agora, depois de um enorme sucesso, parece estar ficando ainda mais.