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Tailandeses procuram refúgio após o golpe

Soldados tailandeses dançam com residentes em um evento organizado pela junta militar | Christophe Archambault/Agence France-Presse — Getty Images
Soldados tailandeses dançam com residentes em um evento organizado pela junta militar (Foto: Christophe Archambault/Agence France-Presse — Getty Images)

A Tailândia, que por muito tempo foi um bastião liberal no Sudeste Asiático, era considerada um porto seguro para refugiados de países vizinhos menos democráticos. Agora, após um golpe recente, um pequeno grupo de intelectuais tailandeses está fazendo o caminho inverso —indo para o Camboja e outros países mais repressivos, já que seu próprio país persegue ferozmente os descontentes.

Líder de uma comunidade de exilados, Jakrapob Penkair disse que dezenas de professores, ativistas e políticos fugiram da Tailândia nas últimas semanas, pois líderes da junta tailandesa prenderam centenas de pessoas proeminentes no que muitos consideram uma campanha de intimidação, com o fim de silenciar os críticos ou afugentá-los.

"Muitos de nós não voltarão para casa tão cedo", disse Jakrapob, ex-porta-voz do governo, aqui na capital cambojana, onde se encontra regularmente com outros exilados tailandeses desde sua chegada em 2009. Ele pretende organizar algum tipo de resistência no exterior contra a junta.

Em décadas passadas, fugir para um país autoritário como o Camboja pareceria uma ideia absurda para quem estava acostumado com as liberdades na Tailândia, mesmo em meio a uma série de golpes. Afinal, o país relativamente próspero era um porto seguro para os oprimidos, como famílias que fugiam da política genocida do Khmer Vermelho no Camboja, quatro décadas atrás, ou tribos montanhesas perseguidas em Mianmar que queriam escapar dos ataques dos militares birmaneses.

Esse tipo de migração continua, mas, como a Tailândia tem vivido uma crise política atrás da outra, alguns disseram não ter outra opção a não ser fugir do que descrevem como uma intolerância crescente a vozes dissonantes.

É difícil confirmar os números exatos, pois muitos dos que partiram temem ser caçados pelos militares tailandeses e preferem não revelar seu paradeiro.

Um desses exilados, Chinawat Haboonpat, ex-membro do Parlamento pelo partido governante deposto, escreveu uma mensagem para seus apoiadores no Facebook em 22 de maio, dia em que os generais tomaram o poder na Tailândia.

"Irmãos e irmãs, não estou fugindo", escreveu, acrescentando que o ex-ministro do Interior, Charupong Ruangsuwan, estava com ele. Chinawat, porém, cometeu a imprudência de não desativar uma função do Facebook que citava sua localização no fim da mensagem: Toul Kork, Camboja, um distrito de Phnom Penh. (Posteriormente, a mensagem foi deletada.)

A Tailândia que os exilados estão deixando para trás não é exatamente uma típica ditadura militar. O toque de recolher imposto após o golpe foi suspenso em áreas turísticas e vigora frouxamente em outras partes do país. A maioria das pessoas detidas nos dias após o golpe já foi libertada, incluindo a ex-primeira-ministra Yingluck Shinawatra.

A liberdade de expressão foi drasticamente restringida e a mídia cacofônica da Tailândia se encontra parcialmente silenciada pela junta militar. A junta também proibiu reuniões de cinco pessoas ou mais —regra que não se aplica a suas próprias tentativas de manipular a opinião pública, as quais incluem apresentações em Bancoc intituladas "A Felicidade Voltou para as Pessoas". Segundo a mídia tailandesa, esses shows, com mulheres que dançam e cantam com minissaias de tecido camuflado, foram organizados por especialistas em guerra psicológica.

Quase todas as noites, os militares anunciam na televisão os nomes de pessoas intimadas a prestar esclarecimentos ou que serão detidas. Defensores da democracia, acadêmicos e qualquer um que fale publicamente sobre política assistem à TV temendo que seus nomes tenham entrado na lista que incluiu mais de 350 pessoas. Quem sai da cadeia é obrigado a assinar um acordo que proíbe sua participação em "política". Alguns dos intimados são ligados a Thaksin Shinawatra, irmão de Yingluck e ex-premiê destituído em um golpe em 2006. Verapat Pariyawong, advogado formado em Harvard que denunciou decisões judiciais recentes como movidas por intuito político, foi para Londres depois que, segundo ele, um homem na garupa de uma moto disparou tiros contra sua casa. "Sou obrigado a admitir que não me sinto seguro na Tailândia".

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