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Duas metades da tela “Madame Léon Clapisson”, mostrando a versão melhorada digitalmente, reproduzindo sua aparência em 1883 (à dir.), e o aspecto atual da obra | CORTESIA – ART INSTITUTE OF CHICAGO
Duas metades da tela “Madame Léon Clapisson”, mostrando a versão melhorada digitalmente, reproduzindo sua aparência em 1883 (à dir.), e o aspecto atual da obra| Foto: CORTESIA – ART INSTITUTE OF CHICAGO

Os conservadores do Instituto de Arte de Chicago queriam resolver o mistério da cor ausente.

Eles examinavam a tela "Madame Léon Clapisson", pintada em 1883 pelo impressionista francês Pierre-Auguste Renoir, que acabava de ser retirada da sua moldura para o estudo.

A parte que havia ficado escondida atrás da moldura estava marcadamente mais vívida.

"Ficou protegida da luz, por isso pudemos realmente apreciar a cor original nessa área não desbotada", disse Francesca Casadio, chefe de conservação do museu. "É realmente muito impressionante. É um tipo de pintura muito roxo-escarlate."

Embora as bordas reluzentes tenham sido observadas há 15 anos, o museu não tinha na época as instalações científicas necessárias para investigar.

Mas, há quatro anos, um projeto destinado a criar um catálogo digital das obras de Renoir pertencentes ao museu forneceu a oportunidade de executar uma bateria de testes científicos.

Kelly Keegan, conservadora que trabalha no projeto, disse que um olhar sob o microscópio revelou que a mudança de cor não havia sido decidida pelo próprio Renoir, nem causada por uma limpeza imprudente.

"É muito claro que é a pintura original. Você pode ver que há na superfície partículas que estão meio transparentes agora."

As bordas com as cores intactas não tinham as partículas transparentes, as quais evidentemente haviam contido moléculas de pigmentos que se desprenderam, causando a perda de cor.

Em todo o mundo, conservadores submetem suas pinturas a banhos de luzes para ver o que está escondido. Mas as técnicas não permitem identificar pigmentos orgânicos, populares entre os impressionistas.

Para isso, Casadio e Federica Pozzi, cientistas de conservação com formação em química, começaram a usar uma técnica a laser chamada espectroscopia Raman de superfície melhorada.

Com laser, cores de um impressionista voltam à vida

Quando o laser atinge um material, os fótons saltam para fora, e alguns provocam vibrações nas moléculas e alteram seu comprimento de onda.

O espectro de cores da luz espalhada é utilizado para identificar as moléculas. Na espectroscopia Raman de superfície melhorada, a amostra é depositada sobre nanopartículas de prata, que amplificam o sinal.

Usando um pontinho vermelho raspado da borda da pintura, os cientistas identificaram o pigmento: carmim, feito a partir da cochonilha, inseto comum no México e na América do Sul.

Ainda hoje, cochonilhas criadas para esse fim são usadas como corantes. O Starbucks usava o pigmento em algumas de suas bebidas, mas parou em 2012, apos queixas de vegetarianos.

A chamativa cor vermelha da cochonilha havia claramente atraído o olhar de Renoir. Mas ela não dura. Mesmo catálogos de pintura daquela época já observaram que a cor não é estável quando exposta à luz.

"Acho que os artistas não perceberam que as cores poderiam desbotar", disse Casadio.

Não se cogita restaurar os matizes originais do retrato, mas, com um software, Keegan conseguiu criar uma versão digital de como a tela poderia ser em 1883.

O fundo de cinzas, azuis e verdes já foi uma faixa de vermelho e roxo. "Sob certos aspectos, mais ousado e mais aventureiro", disse Gloria Groom, curadora-chefe do museu.

"Você acha que conhece um artista, e então a ciência diz algo diferente sobre ele e você diz: ‘Ah, isso não se encaixa na minha ideia sobre o que esse artista é’."

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