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Depois de perder o marido, Anne Schomaker continuou em estado de luto por 9 anos. | Karsten Moran/The New York Times
Depois de perder o marido, Anne Schomaker continuou em estado de luto por 9 anos.| Foto: Karsten Moran/The New York Times

Anne Schomaker, 73, cuidou de seu marido nos últimos oito anos de sua vida, quando ele ficou cego, teve câncer e falência cardíaca. Após a morte dele, em 2002, ela vendeu a casa em que os dois tinham vivido, pois o lugar carregava recordações demais, e se mudou para sua casa de campo no interior de Nova York.

Schomaker recorda que seus amigos acharam que ela estava lidando bem com a perda. “Fiz trabalhos como voluntária, para sair de casa e fazer coisas, para preencher o vazio”, contou. “Eu tinha muitos interesses.” Ela fez viagens. Chegou a tentar namorar novamente.

“Mas eu não estava bem, na verdade”, contou a viúva. “Passava por momentos de tristeza e desânimo profundo. Sentia falta enorme de meu marido.”

Mesmo depois de fazer terapia, o que a ajudou, Schomaker continuou a ter pesadelos. Não suportava ouvir árias das óperas que tinham sido as favoritas dela e de seu marido. “A dor não ia embora”, explicou.

A morte de uma pessoa amada muitas vezes gera tristeza profunda em quem fica. No entanto, o sofrimento intenso do início do luto costuma perder força com o passar dos meses, e as pessoas alternam momentos de tristeza contínua com outros marcados pela capacidade crescente de redescobrir os prazeres da vida.

O que distinguiu o sofrimento de Schomaker foi a duração. Depois de passar nove anos enlutada, ela viu um anúncio da Universidade Columbia, de Nova York, onde pesquisadores que tinham idealizado um tratamento para o “luto complicado” buscavam interessados em participar de um novo estudo. Schomaker achou que a nova abordagem talvez pudesse ajudá-la.

O luto complicado ou prolongado pode afetar qualquer pessoa, mas é um problema especial para adultos de idade mais avançada, porque eles sofrem muitas perdas: cônjuges, pais, irmãos, amigos. “É algo que decorre do sentimento de perda”, disse a psiquiatra Katherine Shear, que comandou o estudo da Universidade Columbia. “E as perdas importantes são muito maiores no caso das pessoas de mais de 65 anos.”

Neste ano, no “The New England Journal of Medicine”, Shear descreveu vários sintomas característicos do luto complicado: saudade profunda, pensamentos e memórias preocupantes e a incapacidade de aceitar a perda do ente querido ou de imaginar um futuro sem a pessoa que morreu.

O luto complicado, que é mais grave e prolongado que o luto típico, prejudica a capacidade do enlutado de viver normalmente.

“A adaptação às perdas é algo que faz parte de nós, tanto quanto o próprio luto”, comentou Shear, diretora do Centro de Luto Complicado na Universidade Columbia. No caso do luto complicado, disse ela, “alguma coisa impede essa adaptação”.

George A. Bonanno, autor de “The Other Side of Sadness” (O outro lado da tristeza), afirma que a resiliência é a reação mais típica à morte de entes queridos. Mas, segundo ele, “sempre vemos um grupo de pessoas que não se recuperam”.

O problema parece ser mais comum quando uma morte é repentina ou violenta; quando a pessoa que morreu foi o cônjuge, parceira ou filha de quem sofre, ou quando a pessoa enlutada tem um histórico de depressão, ansiedade ou abuso de álcool ou drogas.

Em ensaios clínicos, a terapia do luto complicado revelou ser mais eficaz com adultos mais velhos que a psicoterapia interpessoal. A terapia focaliza os sintomas do sentimento de perda e incorpora recordações, fotos e gravações.

Anne Schomaker sente que se recuperou muito. Ela, que faz trabalhos voluntários e frequenta museus, está grata por ter feito a terapia de luto complicado.

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