Em uma manhã recente, Anthony O’Grady, 26 anos, estava em frente a um Dunkin’ Donuts em Manhattan. Ele ouviu um barulho, alguns gritos; então viu um policial perseguindo um homem na rua e atirando nele. Momentos depois, O’Grady disse que o homem ferido estava fugindo quando foi baleado.
Sunny Khalsa, 41 anos, andava de bicicleta quando viu os policiais e o homem. Ela ficou abalada com o que testemunhou. “Vi um homem algemado sendo baleado. E sinto muito, talvez eu esteja louca, mas foi isso que vi.”
Naquela tarde, o departamento de polícia de Nova York divulgou o vídeo que mostrou que tanto O’Grady quanto Sunny estavam errados.
O homem que tomou o tiro não estava fugindo dos policiais; na verdade, ele estava perseguindo uma policial pela rua, usando um martelo para agredi-la. Atrás dos dois havia outro policial que atirou no sujeito, David Baril. Sunny não viu Baril algemado e sendo baleado; como o vídeo e as fotografias mostram, ele brandia o martelo livremente, e depois aparece deitado no chão. Ele foi algemado alguns instantes depois, bem depois de ter tomado o tiro.
Estudos de memórias de eventos traumáticos consistentemente mostram como é comum que surjam erros em relatos tidos como confiáveis. “É bem normal”, disse Deryn Strange, professora associada de Psicologia na Faculdade de Justiça Criminal John Jay College, em Nova York.
Em um estudo, Deryn mostrou para um grupo um filme de um acidente de carro em que cinco pessoas, inclusive um bebê, morreram. O filme foi editado para remover trechos do acidente. Então, 24 horas mais tarde, ela perguntou aos participantes do que eles se recordavam. As pessoas foram capazes de descrever com precisão o que tinham de fato visto, Deryn disse, mas muitas delas — 36 por cento — também disseram ter lembranças fortes de partes do acidente que na verdade não foram mostradas.
Uma destacada pesquisadora na área da memória de testemunhas, Elizabeth Loftus, da Universidade da Califórnia, em Irvine, disse que há grande evidência de que as pessoas encontraram maneiras de tapar buracos em suas lembranças. “Muitas vezes elas os preenchem com suas próprias expectativas, e certamente com o que ouviram de outros”, disse ela.
Isso não é o mesmo que declarações falsas de pessoas que mentem deliberadamente. Memórias falsas podem ser tão convincentes quanto as genuínas, disse Elizabeth.
“Estou muito envergonhada”, disse Sunny depois de ter assistido o vídeo. Agora, ela acredita ter visto o encontro inicial e depois desviado o olhar, porque estava de bicicleta. Naquele momento, o homem começou o ataque, que durou cerca de três segundos, até que ele foi baleado. Ela disse: “Na minha mente, achei que ele estivesse lá tranquilamente e logo depois estava no chão algemado”.
“Com todas as notícias de policiais envolvidos em tiroteios, achei que a polícia estava se aproveitando de alguém que é facilmente discriminado. Baseada no que vi, pensei o pior, mesmo tendo desviado o olhar.”