Desde o momento em que Tóquio venceu, em setembro, a acirrada disputa para sediar a Olimpíada de 2020, os moradores vêm lançando ideias algumas bastante improváveis, outras tentadoramente imagináveis do que a cidade vai oferecer aos mais de 10 milhões de espectadores esperados para os Jogos.
Carros que andam sozinhos poderão transportar passageiros importantes pelo trânsito engarrafado da capital. Pessoas idosas poderiam usar trajes biônicos para se locomoverem. Os serviços de tradução da próxima geração, difundidos em tecnologia de uso cotidiano, vão ajudar moradores a se comunicarem com visitantes estrangeiros. E talvez haja alguma engenharia meteorológica para aliviar o calor e a horrível umidade do verão de Tóquio.
Mas há também preocupações. Tóquio, com 13 milhões de pessoas, é uma das cidades do mundo mais propensas a desastres terremotos, tufões, tsunamis e temporais. Especialistas se preocupam com os efeitos que a mudança dos padrões climáticos terá na área da baía de Tóquio, onde boa parte das novas estruturas olímpicas será construída.
"Não existe no mundo nenhuma cidade como Tóquio", disse Hiroyuki Hayashi, porta-voz da iniciativa governamental chamada "Cidade do Futuro", que explora caminhos para a urbanização. "Ela lidera tanto em possibilidades como em desafios."
Tóquio se imagina como uma cidade do futuro. Um tema similar ecoou na última vez em que ela sediou a Olimpíada, em 1964. A cidade tinha se erguido das cinzas da Segunda Guerra Mundial e estava mostrando ao mundo uma nova imagem reluzente, com múltiplas linhas de metrô, um aeroporto moderno e seu sistema de trens-bala, então os mais rápidos do mundo. O país demonstrou sua ascensão a líder em tecnologia ao transmitir pela primeira vez a Olimpíada ao vivo, via satélite. Desta vez, o Japão quer mostrar um país vibrante, reemergindo da dor de décadas de problemas econômicos para recuperar sua posição de força motriz da alta tecnologia.
Para Hisashi Taniguchi, executivo-chefe da empresa de robótica ZMP, com sede em Tóquio, a Olimpíada será o catalisador de que o Japão precisa para saltar à frente de outros países na fabricação de carros sem motoristas.
Os Jogos Olímpicos levarão um tráfego pesado para rotas bem definidas, como aquelas que ligam a vila dos atletas às instalações olímpicas na orla da capital. Uma frota de cem ou mais carros e vans autoguiados poderia transportar atletas e outras pessoas, disse Taniguchi, e seria mais fácil deslocá-los pelas amplas vias à beira-mar do que no congestionado centro da cidade.
As autoridades de Tóquio não descartam a ideia dos carros sem motoristas, embora mencionem uma lista de obstáculos para a regulamentação antes que a tecnologia seja autorizada.
O país quer exibir também outras tecnologias de transporte. A Hino Motors e outra empresa do mesmo grupo, a Toyota Motor, planejam lançar em 2016 um ônibus alimentado por células de combustível para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. E, embora os japoneses não prevejam ter em operação antes de 2027 os trens nacionais de levitação magnética, que correm a uma velocidade de 480 km/h, autoridades do governo sugeriram que os operadores desse serviço tenham pelo menos parte da linha disponível para visitantes durante os Jogos.
Takahito Iguchi, fundador da start-up Telepathy, imagina uma Olimpíada em que os visitantes possam constantemente transmitir o que veem por meio de aparelhos portáteis como os óculos Telepathy One, que posicionam um microprojetor e uma câmera diante de um dos olhos. A primeira versão é esperada para este ano.
A NTT DoCoMo, maior operadora de celulares do Japão, lançou óculos de "tradução instantânea", que usam câmeras, tecnologia de reconhecimento de texto e software de tradução. A empresa também planeja preparar seu serviço de telefonia celular para processar dados com rapidez cem vezes maior do que a das redes atuais.
Mas, para alguns moradores de Tóquio, a preparação para os Jogos consiste principalmente em encarar desafios. A crise nuclear em Fukushima, 260 km ao norte de Tóquio, ainda não está sob controle. E a cidade precisa reformar edifícios velhos, dotando-os da avançada tecnologia contra terremotos, além de fortalecer diques e modernizar antigas vias expressas, dizem especialistas.
O envelhecimento da população é outro desafio. O governo estima que, na época do início dos Jogos, um em cada quatro moradores de Tóquio terá mais de 65 anos. Projeções sugerem que, demograficamente, 2020 poderá representar o canto do cisne de Tóquio. Depois, a população da cidade poderá entrar em um longo declínio.
Outros temem que a recriação da cidade vá longe demais.
"É importante compreender que os Jogos são um meio de obter uma sociedade mais resistente e autoconfiante, não um fim em si mesmo", disse Christian Dimmer, da Universidade de Tóquio.