No suspense de ficção científica "Expresso do Amanhã", a luta de classes é explicita.
O filme, lançado na Europa em março e nos EUA em junho, imagina um futuro no qual o esforço para diminuir o aquecimento global resulta numa nova Era do Gelo que torna o planeta inabitável. Os últimos membros da raça humana vivem num trem com motor de movimento perpétuo correndo sobre trilhos que circum-navegam o planeta. Como hoje em dia, os passageiros têm assentos em classes determinadas; a diferença é que ali, elas são sociais também, com os mais pobres relegados aos esquálidos vagões do fim do veículo e os mais ricos, à opulência dos primeiros. As massas, porém, lideradas pelo astro Chris Evans, ensaiam uma revolta (entre os vilões, Tilda Swinton) e tentam ajustar o equilíbrio do poder.
"Expresso do Amanhã" é a estreia no mercado de língua inglesa do sul-coreano Bong Joon-ho ("O Hospedeiro", "Mother - A Busca Pela Verdade"), baseado no romance gráfico francês "Le Transperceneige". Fã de gibis, ele encontrou o original numa loja de Seul, em 2005.
"Tive sorte porque, na época, só a Coreia, além da França, tinha publicado o romance. Fiquei fascinado pelos cenários e a qualidade dos desenhos", conta ele, por telefone, de sua casa na capital sul-coreana.
E o filme faz um contraste visual drástico entre as classes porque, embora tenha sido inspirado pela obra francesa, vai mais além com opções ousadas de estilo e desenho.
Na parte da frente do trem os sobreviventes vivem na fartura, com aquário, sauna, salões de festa e uma piscina que ocupa um vagão inteiro, cercado de vidro que permite que seus frequentadores admirem as montanhas cobertas de neve do lado de fora.
Já para os passageiros pobres, a vida é deprimente. Eles sobrevivem graças a blocos gelatinosos de proteína e se apertam em cubículos lotados que, aliás, foram inspirados nas favelas de Hong Kong e outros países.
"Se for para comparar, nas seções de uma loja de departamentos ou hotel de luxo é tudo muito colorido e estiloso, mas basta entrar na área reservada aos funcionários para ser exposto a concreto, tubulação, sujeira. A ideia era abordar esse contraste de modo que o os tons ficassem bem óbvios no trem."
Bong e sua equipe criaram a arte conceitual dos vagões com a ajuda do desenhista de produção tcheco Ondrej Nekvasil, responsável também por "O Ilusionista" (2006).