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Mudança

Trocando a ciência pelo romance

Yiyun Li | Drew Kelly PARA The New York Times
Yiyun Li (Foto: Drew Kelly PARA The New York Times)

Crescendo em Pequim como a filha de um físico, Yiyun Li parecia destinada à ciência, mas ela lia escondido poesia da dinastia Tang, enquanto "fingia fazer a lição de Matemática". Anos depois, estudando para um Ph.D. em Imunologia na University of Iowa, lia contos recortados da revista "The New Yorker".

"Meus pais eram muito contra a escrita, e até mesmo contra eu ler literatura. Eles achavam que isso colocava ideias erradas em minha cabeça", lembrou ela. "Acho que eles não gostavam que eu lesse nada além de Ciência".

Há doze anos, Li abandonou o curso de Medicina e se matriculou no respeitado programa de escrita de Iowa. Desde então, ela já publicou duas elogiadas coletâneas de contos, escreveu dois romances, ganhou uma "bolsa gênio" da MacArthur Foundation (uma remuneração sem compromisso de US$625 mil, pago em parcelas trimestrais ao longo de cinco anos) e foi incluída em listas de "melhores jovens escritores americanos". Entretanto, quando chegou aos Estados Unidos, em 1996, ela não havia escrito nada em inglês ou chinês, sua língua mãe.

"Ela é um caso interessante para uma escritora escrevendo em sua segunda língua", afirmou John Freeman, ex-editor da "Granta", revista literária britânica que indicou Li, hoje com 41 anos, para sua lista de melhores romancistas jovens. "Há uma elegância e suavidade em seu estilo que, na verdade, disfarça os sentimentos bastante apaixonados e intensos de ambiguidade e perda de seus personagens".

O último romance de Li, "Kinder Than Solitude", da editora Random House, alterna entre China e Estados Unidos. Seus quatro personagens principais começam como amigos adolescentes crescendo em Pequim, no período após o massacre de 1989 na praça Tiananmen. Depois que o mais velho é envenenado, talvez por um dos outros, os sobreviventes seguem seu caminho: um se torna um próspero e desalmado empresário à frente do boom econômico chinês, enquanto os outros dois vão aos Estados Unidos, estabelecendo-se em cidades universitárias como Berkeley, Madison e Cambridge, sem nunca conseguir se adaptar. Em função dos imigrantes, Li costuma ser classificada juntamente a romancistas como Jhumpa Lahiri, Gary Shteyngart e Daniel Alarcón como uma "nova escritora americana" de primeira geração. Ela ressalta que veio aos Estados Unidos já adulta, e não era bilíngue.

"Eu na verdade não sei sobre o que deveria escrever uma escritora imigrante", declarou ela, "e se você olhar meus personagens, eles não sofrem como imigrantes. Eles se saem bem. Se quiserem, eles podem ter uma boa vida. O principal é que eles precisam lidar com suas lutas internas" e os problemas que trazem da China.

Li parece ter se adaptado bem aos EUA. Ela leciona Literatura na University of California, em Davis, e diz levar seus filhos, Vincent e James, a aulas de música e esportes; seu marido, Dapeng Li, que conheceu na faculdade na China, é um engenheiro de software na Pandora (rádio de internet).

Li disse que, na China, ela não escreveu nada em chinês, exceto por um diário que mantinha enquanto adolescente. Embora a maioria de seus personagens sejam chineses, quando ela os ouve falando em sua mente, eles falam inglês. O inglês "pareceu bastante natural para mim com rapidez", garantiu ela. "Eu penso em inglês, sonho em inglês. Aprendi inglês já adulta, o que foi uma vantagem. A desvantagem é que você não tem aquela intimidade com o idioma". A escritora Amy Leach, colega de classe em Iowa e amiga até hoje, afirmou: "Nós falávamos sobre como pode ser vantajoso não ter todos aqueles clichês vindo à sua mente e anulando ideias e palavras mais originais". Li disse: "Eu acho que, ao aprender um idioma já como adulto e então usá-lo para escrever, você também evita aprender um grande número de bobagens".

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