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Turismo comunitário ganha força na Namíbia

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Há quase duas décadas, a Namíbia faz parte de uma experiência ambiciosa em turismo comunitário e conservação da vida selvagem, conhecida como reservas comunitárias.

"A ideia era combater a caça ilegal restituindo o controle da vida silvestre à população local", disse John Kasaona, diretor da Conservação Integrada de Desenvolvimento Rural e Natureza. "Quisemos mostrar que eles podiam se beneficiar financeiramente e manter os animais vivos, em particular com o turismo de natureza."

O plano foi uma história de sucesso retumbante —e rara— para a vida silvestre africana: 79 reservas cobrem hoje 20% da Namíbia. As populações de leões do deserto, elefantes do deserto e rinocerontes pretos, todas ameaçadas de extinção na década de 1990, aumentaram várias vezes, enquanto a caça ilegal despencou.

Ao mesmo tempo, as reservas se aliaram às operadoras de turismo, dando aos viajantes um acesso sem precedentes à cultura local e aos animais.

Quase a metade de todas as reservas da Namíbia, e muitos dos mais ambiciosos projetos de turismo comunitário do país, ficam na região de Kunene, no norte, uma extensão de montanhas e vales secos do tamanho da Grécia, mas com menos de 90 mil habitantes.

Pistas bem marcadas percorrem o deserto, atravessam leitos de rios secos e às vezes desaparecem totalmente. Lá, as reservas conseguiram um de seus maiores sucessos, o retorno do ameaçado rinoceronte preto.

"Esses animais foram quase completamente eliminados por caçadores 25 anos atrás", disse Aloysius Waterboer, um guia no Campo de Rinocerontes do Deserto, uma pousada de tendas localizada em Damaraland, o lar tradicional da população damara. Aproximadamente 30 rinocerontes vivem hoje nessa área.

O acampamento fica isolado em 4.400 quilômetros quadrados de montanha pedregosa e cerrado desértico, cedidos por reservas da região que também são sócias do projeto em 40%. Muitos especialistas em localizar rinocerontes da equipe são antigos caçadores.

"Quando você é um caçador, tudo o que realmente quer é alimentar sua família", explicou Waterboer. "Por isso tem sentido colocá-los na folha de pagamento."

Na borda de Kaokoland, no árido noroeste, está o que talvez seja o mais incomum experimento de turismo comunitário da Namíbia. O primeiro acampamento para hóspedes de propriedade da população himba fica no topo de uma montanha na reserva de Orupembe. Inaugurada em 2011, a Pousada de Tendas Etambura fica a centenas de quilômetros da aldeia mais próxima, na rede elétrica. Muitos de seus proprietários himba moram nos vales ao redor, criando cabras e gado e vivendo em cabanas feitas de esterco animal e palha, como fizeram durante séculos. Mais que a vida natural, são essas pessoas que os viajantes querem ver.

"A vida selvagem é cuidada como se fosse nosso gado, e o dinheiro do turismo vai para a conta bancária da nossa reserva", disse Uamunikaije Tjivinda, uma mulher himba, enquanto colocava tiras de carne seca de girafa em uma panela de água fervente. "A reserva foi boa para nós."

Kaku Musaso, gerente de acampamento da cidade de Opuwo, guiou os visitantes ao longo de uma garganta, depois por uma descida íngreme até um olho d’água. Seis mulheres himba e uma dúzia de crianças estavam ali reunidas.

Como Tjivinda, muitas mulheres do povo seminômade himba têm o cabelo trançado e vermelho-ferrugem, tingido com ocre extraído do solo.

As mulheres desdobraram cobertores e os cobriram de cestos e joias feitas de contas e ossos de avestruz. Musaso fazia ofertas e os visitantes desembolsaram o equivalente a US$ 20 em dinheiro da Namíbia.

Quando perguntada sobre para que usava o dinheiro, uma mulher mostrou uma embalagem com a foto de uma jovem com longas tranças: extensões de cabelo sintético feitas na África do Sul.

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