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Turistas ameaçam arte que sobreviveu a milênios

Cinco visitantes por semana são autorizados em Altamira | Epa/Alberto Aja
Cinco visitantes por semana são autorizados em Altamira (Foto: Epa/Alberto Aja)

A caverna de Altamira, no norte da Espanha, tem alguns dos melhores exemplos de arte paleolítica do mundo. Durante anos, visitantes vieram ver os bisões, cavalos e símbolos misteriosos pintados e gravados nas paredes de calcário 22 mil anos atrás. Mas em 2002, quando mofo algáceo começou a surgir sobre algumas das pinturas, a caverna foi fechada ao público. O dano foi atribuído à presença de visitantes e ao uso de luz artificial para ajudá-los a verem as pinturas.

Agora a caverna está sendo parcialmente reaberta. No processo, está sendo retomado o debate sobre se sítios pré-históricos como Altamira são capazes de resistir à presença de visitantes modernos. Desde o final de fevereiro, cinco visitantes por semana, escolhidos aleatoriamente e trajando roupas protetoras, são permitidos na caverna. A iniciativa faz parte de um estudo para determinar "se existe uma forma de visitação pública que seja compatível com a conservação adequada de Altamira", disse o diretor do museu de Altamira, José Antonio Lasheras.

Alguns dos cientistas que estudaram a caverna e defenderam seu fechamento, em 2002, reagiram mal à possibilidade de sua reabertura. Para eles, políticos querem usar a caverna, potencialmente colocando-a em risco, para promover o turismo.

"Todos os dados indicam a fragilidade da caverna e sua propensão a sofrer uma infecção fúngica se for aberta a visitas", disse Cesáreo Sáiz Jiménez, professor pesquisador do Conselho Nacional de Pesquisas espanhol.

As pinturas foram descobertas em 1897 por um botânico e arqueólogo amador, Marcelino Sanz de Sautuola. Durante décadas, sua descoberta foi descartada como falsificação. Mas em 1902 um estudo francês de Altamira confirmou que as pinturas são pré-históricas. Na década de 1970 a caverna recebia mais de 150 mil visitantes por ano.

O sítio foi fechado em 1979 para que o impacto do turismo fosse pesquisado, sendo reaberto depois com um limite de 8.500 visitantes por ano. Em 2002 Altamira foi completamente fechada. Em lugar da própria caverna, os visitantes têm acesso a um museu vizinho onde há uma réplica de parte da caverna. No ano passado o museu de Altamira recebeu 250 mil visitantes.

Mesmo uma reabertura limitada diferenciaria Altamira de outras cavernas com pinturas pré-históricas, como a de Lascaux, no sudoeste da França, fechada ao público há anos, desde que sofreu danos fúngicos graves. Altamira e Lascaux integram a lista de Patrimônios Mundiais da Unesco. Em Lascaux, para ampliar a área de proteção em volta da caverna, será aberto em 2016 um novo centro de visitantes que ficará mais longe da caverna original. "Achamos que nossa caverna é muito frágil, de modo que não podemos pensar em outra alternativa senão a conservação restrita", disse a curadora de Lascaux, Muriel Mauriac, que revelou estar acompanhando o que está sendo feito em Altamira.

Lasheras chamou a atenção para o fato de que "as cavernas que foram descobertas nos últimos 40 anos não foram abertas ao público". Antes disso, ele explicou, ninguém tinha tomado nota dos danos que visitantes poderiam causar, "do mesmo modo como ninguém inicialmente se preocupou em proteger a ‘Mona Lisa’ com um invólucro de vidro".

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