Eleanor Catton estava no meio de uma turnê promocional, depois de ganhar o prêmio Man Booker 2013 com seu segundo livro, "The Luminaries", e ainda não tinha assimilado o fato de ser o centro das atenções, muito menos o de estar hospedada num hotel "chique" de Nova York, como ela mesma disse.

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Com seu cabelo comprido, forte sotaque neozelandês e um jeito ao mesmo tempo direto e voluntarioso, a moça é uma espécie de curiosidade literária. Aos 28 anos, é a pessoa mais jovem — e apenas a segunda em seu país — a levar o prêmio, embolsando 50 mil libras (cerca de US$ 80 mil) e se beneficiando imensamente nas vendas.

O romance vencedor é um livro ambicioso de 834 páginas, ao mesmo tempo um mistério — com direito a assassinato no melhor estilo vitoriano de Dickens — e um exercício primoroso organizado de acordo com os signos dos personagens e a posição e os movimentos planetários acima da Nova Zelândia do século XIX.

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Tendo como cenário a cidadezinha de Hokitika, fundada em meio à corrida do ouro, a história começa numa noite de tempestade, quando um viajante mareado e fantasmagórico invade uma reunião secreta de doze homens constrangidos. Surgem vários mistérios: um ricaço que desapareceu; uma prostituta encontrada à beira da morte e um suposto ermitão miserável que se descobriu muito rico e morreu em circunstâncias suspeitas — com os quais cada um dos doze estão envolvidos de uma forma ou de outra. Com uma narrativa em sobreposição, no melhor estilo "Rashomon", o resto do livro tenta responder os comos e porquês.

Segundo os jurados do Man Booker, "The Luminaries" é "extraordinário, luminoso, vasto".

Ele dá saltos cronológicos, começando com um capítulo de 360 páginas e terminando com um que não tem nem duas. Os personagens vão e vêm de acordo com os movimentos planetários.

Catton nasceu no Canadá e foi criada em Christchurch, na Nova Zelândia. Sua mãe era bibliotecária e o pai, um professor de Filosofia que costumava acordar os três filhos para admirar o céu noturno.

Formada pela Universidade de Canterbury, fez mestrado na Universidade Victoria, em Wellington. Em 2008, ganhou uma bolsa para participar do Iowa Writers’ Workshop, nos EUA — e foi lá que escreveu a maior parte de "The Luminaries", usando o namorado, Steve Toussaint, poeta norte-americano, como consultor.

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O mundo literário neozelandês recebeu a notícia da vitória de Catton como um triunfo nacional, mas a escritora refuta a noção de que sua obra, de alguma forma, traduza a identidade de seu país, como alguns sugeriram. "Não acredito em Grandes Romances deste ou daquele país", disse ela.

Ela admitiu ter dificuldades em se ajustar à fama. "Quando mais as pessoas prestam atenção em você, menos você consegue fazê-lo", comentou. E conta que anda tendo sonhos ansiosos com leitores belicosos em festivais literários, o mesmo tipo de pesadelo que a afligiu depois da publicação de seu primeiro livro, "The Rehearsal".

No último de que se lembra, uma pessoa se levanta e questiona, em voz alta: "Você percebe que seu livro não faz sentido, né?".

No entanto, Catton diz que, no fundo, ela sabe que faz. E o sonho com certeza reflete seu progresso pessoal, "do eu para o trabalho".