Projetado por um arquiteto famoso pela ousadia estética, o Sugar Hill Development, na zona norte de Manhattan, poderá se tornar um ícone, mas foi feito para nova-iorquinos muito pobres.
Com pré-escola para mais de cem crianças e um museu de arte e narração de histórias para esse grupo etário, o Sugar Hill visa mostrar como um projeto habitacional subsidiado pode revitalizar um bairro e moldar uma geração. Isso o diferencia positivamente de outros projetos semelhantes, como o Arbor House no South Bronx, que tem academia de ginástica e uma horta hidropônica no topo.
O edifício de 13 andares tem 124 unidades destinadas a pessoas de baixa renda e sem-teto. Seus painéis pré-moldados de concreto cinza-escuro com ranhuras têm rosas em relevo que fazem referência aos ornamentos florais de edifícios históricos do bairro.
Em geral, é preciso semicerrar os olhos para distinguir as rosas.
Os cinco andares superiores se apoiam arrojadamente sobre vigas em balanço. Alguns vizinhos dizem que o edifício parece uma prisão. A "New York Magazine", entretanto, o descreveu como uma "fortaleza artística". Todavia, a maioria das pessoas que abordei durante seis visitas à área disse apreciar o projeto.
O prédio foi projetado pelo talentoso arquiteto britânico David Adjaye, cujo currículo inclui residências caras, com exteriores texturizados escuros que primam pela elegância. "Por que isso é chique para os ricos, porém grosseiro para os pobres?", questiona ele, com razão.
Impressionante em fotografias, o edifício de US$ 84 milhões na realidade é bem menos imponente do que algumas torres residenciais nas ruas ao redor.
Escalonadas em padrões denteados, suas fachadas norte e sul ecoam a aparência de várias casas geminadas na região. Os painéis de concreto corrugado, salpicados com vidro reciclado, reluzem ao sol. Árvores planejadas para a esplanada do edifício deverão suavizar a entrada.
Um bônus foi pago pela construção com estrutura de concreto, com a meta de dar um toque do século 21 a um bairro caracterizado por casas de fachada de granito marrom. Carente de serviços básicos, a área não tem sequer um supermercado decente.
No entanto, o grande diferencial do Sugar Hill é oferecer programas de cunho social para as famílias. Em meio aos sem-tetos de Nova York, as crianças são a faixa etária que mais se expande. Calcula-se que cada morador em um projeto habitacional subsidiado como o Sugar Hill custa em média US$ 12.500 por ano aos contribuintes. Uma cama de vento em um abrigo de emergência custa o dobro disso. Portanto, a escola e o museu para crianças tornaram-se o cerne conceitual do edifício. As salas de aula têm vistas, luz e privacidade.
Um dia desses fui à pré-escola. Os pais estavam maravilhados. Crianças de 4 anos comiam cereais e faziam ioga em colchonetes em salas bonitas, com janelões e pisos verdes alegres.
Diante disso, os apartamentos parecem ter sido pensados com menos esmero: sua configuração é desajeitada, as paredes, angulosas, e há janelas de vários tamanhos situadas em pontos estranhos é difícil mobiliá-los.
Os benefícios da luz natural e do ar puro para a saúde são amplamente conhecidos. Um edifício residencial também deve propiciar tranquilidade aos moradores quando eles entram no local, mas este complexo privilegiou a parte externa. Fornecer apartamentos pequenos e complicados a famílias pobres para acomodar uma fachada surpreendente coloca todo o projeto em questão.
Adjaye comprimiu muita coisa no edifício. Embora a habitação subsidiada sempre exija abrir mão de algo, não deveria ser o espaço habitável.