O cantor pop antigamente clandestino sorriu timidamente quando gritos de suas fãs invadiram o camarim, pouco antes de um show recente. Aparentemente, leva tempo para a gente se acostumar com o lance de superastro, ele disse.
"Xaniar! Xaniar! Xaniar!", o público berrava no auditório no norte de Teerã.
Em menos de 15 minutos, o artista curdo-iraniano Xaniar Khosravi, de 29 anos, subiria no palco diante de milhares de fãs para a sua segunda apresentação oficial de todos os tempos (a primeira tinha sido na noite anterior). A sua música alegre foi por muito tempo considerada ilegal pelo poderoso Ministério da Orientação e Cultura Islâmica em Teerã por ser muito ocidental.
Khosravi estava mais acostumado a ouvir suas canções românticas, distribuídas online, no último volume dos carros. A sua voz era famosa, mas apenas alguns conheciam a sua face. "Eu era como um jogador de futebol sem um campo para jogar", Khosravi declarou. "Eu não tinha nenhum álbum, apenas uma coleção de canções, e nenhuma apresentação. Era como se não tivesse identidade".
Tudo isso mudou com uma canetada do funcionário do ministério, explicaram os assessores do cantor na sala VIP perto do auditório onde a equipe de Khosravi havia se instalado.
Ninguém queria falar sobre isso, já que política é um assunto a se evitar entre os poucos que têm permissão para ser o centro das atenções no Irã, porém, a presença de Khosravi no palco foi consequência direta da eleição do Presidente Hassan Rouhani em junho, um autodenominado moderado. Durante a campanha, Rouhani reiteradamente defendeu maior liberdade artística.
"Digamos que antigamente nenhuma autoridade nem mesmo me receberia", Khosravi disse. "Mas agora, tenho permissão para fazer quatro apresentações".
Apesar da nova carreira de shows de Khosravi, os partidários de Rouhani estão decepcionados com a lentidão das mudanças. A apresentação de Khosravi, no entanto, foi mais uma chance de fazer algo diferente nesta metrópole de 12 milhões de habitantes, uma chance rapidamente agarrada pelos jovens iranianos com fome de entretenimento. Centenas de rapazes usando bonés de beisebol e garotas com lenços de cores vivas nas cabeças aguardavam felizes em frente à sala de espetáculos.
Poucos deles conseguiam se lembrar da época quando vigilantes linha-dura invadiam apresentações populares, chamando os eventos de "arautos de uma invasão cultural ocidental" e desligavam os equipamentos de som e, por vezes, agrediam o público. Mesmo assim, o fato de um cantor clandestino de repente receber permissão para se apresentar foi amplamente visto como um milagre. "Acho que ele alterou algumas de suas letras para que as canções ficassem mais aceitáveis", declarou Yasaman Tehrani, de 21 anos, estudante de engenharia civil. "Não me importo, só queremos nos divertir".
Quando abriram os portões, todos entraram, porém, somente após passar por um portão onde um policial enorme e um colega a paisana examinavam todos os lenços na cabeça. Depois disso, os fãs passaram por um enorme outdoor com o retrato de Rouhani, acompanhado por seu slogan: "O Governo da Previsão e da Esperança".
Feixes de luz verde brilhavam por toda a sala de espetáculos de 2.000 lugares enquanto os adolescentes balançavam bastões luminosos, gritando o nome de Khosravi. Embora os meninos e meninas tivessem permissão de se sentar lado a lado, as equipes de monitores islâmicos da sala rotineiramente passavam corrigindo as mulheres cujos lenços estivessem prestes a cair.
Khosravi fechou a noite com um dos seus grandes sucessos, "Genuine Idea". Ao som da bateria e das guitarras, três telões enormes mostravam imagens de florestas e rios alternadas com fotos dos membros da banda. Dançar é proibido no Irã, assim, todos se balançavam em suas cadeiras.
"Só dá você no meu pensamento, estou procurando uma ideia verdadeira, quero estar no seu coração para sempre", cantava Khosravi, que é casado.
"Nós te amamos, Xaniar!" as garotas gritavam com toda a força.
Antes da apresentação Khosravi havia dito que há anos ele sentia "um aperto no coração" quando pensava em fazer um show, sabendo que isso era quase impossível.
"Desejo que todos os cantores clandestinos possam fazer suas apresentações", Khosravi disse.
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