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Velhos amigos viram casal eloquente na tela

John Lithgow, à esquerda, e Alfred Molina em “Love Is Strange” | Elizabeth Weinberg para The New York Times
John Lithgow, à esquerda, e Alfred Molina em “Love Is Strange” (Foto: Elizabeth Weinberg para The New York Times)

Numa tarde recente os atores John Lithgow, 68, e Alfred Molina, 61, estavam sentados lado a lado num hotel em Manhattan. Os dois vivem em Los Angeles, mas Lithgow estava em Nova York, representando o papel-título de "Rei Lear" no Shakespeare in the Park, e Molina o tinha visto no palco na noite anterior.

"Sua atuação foi uma revelação", Molina elogiou, colocando uma mão carinhosa no braço do outro ator. "Ele é o melhor Lear que já vi." Então, enquanto Molina contava uma piada longa, Lithgow o olhou com ternura, uma expressão de quem está achando graça e, possivelmente, um pouco de impaciência.

Embora os dois estejam casados com mulheres há décadas, seria fácil confundi-los com um casal de gays que vivem juntos há anos —exatamente o que eles representam em "Love Is Strange", de Ira Sachs. No filme, rodado no ano passado em vários lugares em Manhattan, Lithgow é Ben, um pintor cada vez mais esquecido e distraído, e Molina é o gentil George, professor de música num colégio católico.

Depois de quase 40 anos juntos, eles se casam, e a iniciativa leva George a perder seu emprego. A perda de renda obriga os dois a vender seu apartamento aconchegante, e, enquanto procuram um lugar novo para morar, eles vão viver separados pela primeira vez em anos, hospedando-se com familiares e amigos.

É o ponto de partida para uma reflexão sobre a intimidade doméstica de longo prazo em todo seu conforto, sua banalidade e seus aspectos espinhosos.

Críticos chamam a atenção para as cenas sutis de um casamento. A "Variety" observou que o casal é mostrado sob ótica longe de idealizada: em vez disso, "os dois ainda discutem por bobagens e se irritam com detalhes, e, em uma das cenas mais comoventes do filme, um marido que pulou a cerca pede desculpas por suas indiscrições passadas".

Lithgow e Molina dizem que foi fácil criar sua intimidade na tela, em parte porque eles se conhecem casualmente há anos. Na realidade, um olhar atento detectará no apartamento de Ben e George uma foto dos dois atores num evento nos anos 1980.

"Mas não me lembro que evento foi", Lithgow comentou. "Também não", disse Molina.

Ira Sachs convidou Molina primeiro para atuar em "Love Is Strange" e depois Lithgow, sabendo que os dois se conheciam. "Como diretor", ele explicou, "você se certifica de que o ator que escolheu goste do ator que você quer convidar. Apesar de John e Fred (nunca terem trabalhado juntos antes, eu sabia que eles tinham uma história em comum e pressenti que haveria uma química ótima entre eles."

Lithgow e Molina dizem que sua relação de intimidade no filme, que parece cômoda e tranquila desde o começo, aconteceu facilmente. "Imaginei Ben e George totalmente formados, porque mesmo no texto do roteiro, a história brilhava de autenticidade emocional", disse Lithgow.

Os dois homens certamente se inspiraram em seus próprios casamentos para criar esse retrato de uma relação conjugal suavizada pelo tempo. Lithgow é casado desde 1981 com a professora de história Mary Yeager. Molina, com a atriz e romancista britânica Jill Gascoine há 29 anos.

"Quando você está num relacionamento há tanto tempo, já passou por vários casamentos", ele comentou. "O conhecimento e a compreensão mútua vão aumentando."

Mas Molina estava titubeando. Quando explicou que sua mulher tem o mal de Alzheimer, ele começou a chorar. Foi um momento que pareceu ecoar o final de "Love Is Strange", que deixou espectadores em lágrimas nas primeiras sessões do filme.

E enquanto Molina chorava, Lithgow segurava sua mão.

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