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Vilarejo chinês denuncia roubo de múmia

Em março, Lin Yongtuan estava lendo o noticiário em seu telefone quando viu uma reportagem sobre uma descoberta notável. Uma múmia de quase mil anos de idade de um monge havia sido encontrada dentro de uma estátua de um Buda dourado sentado de pernas cruzadas.

Lin correu para o vilarejo montanhoso de Yangchun, onde passou sua infância orando para uma estátua semelhante. Mostrou às pessoas a foto da estátua, exposta em um museu de Budapeste, que acompanhava a reportagem.

Os moradores de Yangchun concordaram: era a mesma estátua. “Todo mundo ficou emocionado”, contou Lin, 46. “O sorriso, os olhos, a postura —era inconfundível.”

Os moradores chamavam a múmia de Patriarca Zhanggong, e ela tinha sido roubada 20 anos antes.

Desde março, os 1.800 residentes de Yangchun adotaram como missão recuperar sua múmia. Eles chamaram jornalistas à cidade, lançaram apelos nas mídias sociais e fizeram lobby junto ao governo, que vem intensificando seus esforços para conseguir a devolução de relíquias culturais roubadas.

Numa tarde recente, uma réplica grosseira do Patriarca Zhanggong estava perto de uma mesa onde moradores do vilarejo tinham espalhado provas para substanciar sua reivindicação: fotos da múmia feitas em 1989 e as roupas que adornavam a figura e que foram deixadas para trás por quem a roubou em 1995.

“Para nós, o Patriarca Zhanggong não é uma relíquia cultural”, disse Lin Wenqing, 39. “Ele faz parte da família. É um de nós.”

Antes de a múmia ser roubada, os moradores rezavam para o Patriarca Zhanggong em cada evento importante no vilarejo. Essas tradições parecem remeter a séculos atrás, tendo sido passadas de geração em geração, juntamente às histórias do patriarca quando era um garoto de sobrenome Zhangg que foi morar no vilarejo com sua mãe, trabalhou como vaqueiro e se tornou monge.

“Sempre nos disseram que ele viveu durante a dinastia Song”, disse Lin Chengfa, 44, “e que seu corpo mumificado estava dentro da estátua.”

No passado, na escola Chan de budismo, a mumificação de monges era sinal de sua eminência.

Lin, que fez parte da unidade policial chamada em dezembro de 1995, quando a estátua desapareceu, recorda que vários moradores da cidade choraram.

Alguns dos moradores mais velhos tinham tomado medidas extraordinárias para proteger a estátua durante a Revolução Cultural de Mao Tsetung.

Contatado no site LinkedIn, o arquiteto holandês Oscan van Overeem disse que é proprietário da múmia, que comprou em 1996 de um colecionador que a teria encontrado em Hong Kong.

Profissionais que estavam restaurando a estátua perceberam que ela poderia conter algo em seu interior, e Overeem decidiu encomendar uma tomografia dela. Mas ele insiste que sua estátua não é o Patriarca Zhanggong.

“Com dados e pesquisas, pude facilmente convencer os representantes chineses que a reivindicação dos moradores de Yangchun não tem fundamento, ou é muito pouco provável que tenha”, escreveu por meio do LinkedIn.

Mas Overeem disse que concordou em doar a múmia a um “importante templo budista” perto de Yangchun, que descreveu como um povoado que “finge que a múmia lhe pertence”.

Lin Wenqing disse: “Queremos nosso Patriarca Zhanggong de volta para que possamos orar diante dele e adorá-lo, não para que algum colecionador o conserve em um porão frio ou uma vitrine de museu”.

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