Após a crise financeira de 2008, os investidores passaram a apostar em empresas que pareciam grandes demais para falir. Mesmo que uma empresa não crescesse a uma velocidade estonteante, seus números grandes transmitiam segurança. A impressão era de que quanto mais vendas, melhor.
Assim, em 2011, quando a Hewlett-Packard anunciou um plano para se dividir em duas empresas, os investidores foram contra. Separar a unidade de computadores pessoais da HP dos produtos e serviços da empresa parecia uma aposta arriscada, que talvez deixasse as duas metades vulneráveis. O plano foi engavetado, e o executivo-chefe que propôs a divisão dispensado.
Atualmente, porém, investidores apostam em empresas mais focadas. O excesso de divisões é visto como um estorvo para a boa administração.
Portanto, quando a HP anunciou em 8 de outubro que se dividiria em duas unidades, basicamente retomando o plano de 2011, os acionistas exultaram. As ações da HP tiveram uma alta de quase 5%.
O anúncio do plano de divisão da HP segue uma trilha já percorrida por empresas como eBay e IBM. Ao satisfazer o apetite dos investidores por simplicidade, a HP sinaliza que uma onda de cisões e desinvestimentos pode estar apenas começando.
"Durante a crise financeira, os acionistas recompensavam tamanho, vendas e diversidade", disse Chris Ventresca, codiretor de fusões e aquisições globais no JPMorgan Chase. "Agora eles não sentem mais necessidade de uma rede de segurança tão grande."
O eBay anunciou recentemente que desmembraria sua unidade do PayPal em uma empresa separada, negociada na Bolsa. Há pouco tempo, a IBM vendeu seu negócio de servidores de baixa gama para a empresa chinesa Lenovo, que adquiriu o negócio de computadores pessoais da IBM há quase uma década. Alguns analistas querem até que a Microsoft se divida em várias empresas de software, videogames e máquinas de busca.
"Hoje as empresas têm muitas opções", afirmou Ventresca. "Elas podem vender, pois os compradores estão vorazes, e podem fazer algo como uma oferta pública inicial de ações, pois os mercados estão saudáveis."
A DuPont, sob pressão do investidor ativista (aquele que além de investir procura interferir nas decisões das companhias), Nelson Peltz, anunciou no ano passado que iria se dividir.
Embora a Dow Chemical tenha resistido a exigências de outro investidor ativista, Daniel S. Loeb, para se dividir em duas, continua se desfazendo de linhas menores de negócios. A General Electric se desfez de seu braço de finanças no varejo em julho e de unidades secundárias em setembro.
Bens de consumo e empresas farmacêuticas também aderiram à tendência. A Procter & Gamble está vendendo mais da metade de suas marcas. O grupo Abbott Laboratories se desmembrou da AbbVie em 2013, criando duas empresas enormes.
Todavia, até o momento, a divisão da HP está entre os casos que mais chamaram a atenção.
A companhia, fundada há 75 anos, é maior fabricante de computadores pessoais do mundo, uma grande fornecedora de impressoras e cartuchos de tinta e importante provedora de servidores, softwares e suprimentos para outras empresas.
Quando assumiu o comando da HP em 2011, Meg Whitman herdou muitos problemas. "A HP estava sob pressão", comentou Peter Burris, analista da Forrester Research. "Seu portfólio era extremamente diversificado, e o balanço havia piorado."
Whitman demitiu funcionários, implementou mudanças nas unidades da empresa e saneou o balanço, o que lhe permitiu retomar a ideia da divisão."Poucos anos atrás, uma atitude como essa poderia parecer uma liquidação-relâmpago, mas agora melhora o foco de uma empresa e simplifica em parte sua complexidade", comentou Burris.
Ambas as empresas poderão estar no mercado para negócios, mas é possível que corram riscos atuando sozinhas. "Uma divisão não elimina todos os desafios", disse Burris. "Os êxitos e as falhas de todas as partes ficam bem mais transparentes. Não é mais possível ocultar as dificuldades."
Para investidores, excesso de setores dificulta gerência