Um jogador no Rio de Janeiro corta com o pé numa partida de futevôlei, onde não se pode usar as mãos para mandar a bola por sobre a rede| Foto: Lalo de Almeida /The New York Times
Uma partida no Rio de Janeiro

O movimento mais impressionante do esporte no Brasil não tem nenhuma relação com futebol, mas acontece na areia e é conhecido, deliciosamente, por Ataque de Tubarão.

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Ao longo do próximo mês, a atenção da cidade estará voltada para a Copa do Mundo, mas os fãs caminhando pelas praias daqui também verão um jogo onde os atletas rotineiramente se jogam no ar, giram o corpo em todas as direções e erguem seus pés quase dois metros acima do solo. O esporte é conhecido como futevôlei, e sua jogada mais característica é fascinante.

A popularidade do futevôlei vem crescendo constantemente, e o jogo pode ser encontrado em países como Itália, Israel e Austrália.

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Ele nasceu nas famosas praias de Copacabana na década de 1960, e envolve dois competidores de cada lado de uma rede, jogando vôlei sem usar as mãos. A criatividade é muito importante: os jogadores usam seus pés, ombros, peito, cabeça e qualquer outra parte que seria permitida num campo de futebol para devolver a bola por cima da rede.

Um toque suave, pernas poderosas e reflexos aguçados são essenciais.

Assim como uma certa dose de coragem, especialmente para aqueles que desejam tentar o Ataque de Tubarão, jogada criada por Leo Turbarão que é basicamente uma versão da cortada no voleibol.

Para fazer o movimento, o jogador precisa saltar alto o suficiente para colocar sua perna acima da rede, e bater na bola para baixo com a sola do pé. Se feito corretamente, é quase impossível de defender; feito errado, pode resultar numa lesão debilitante.

"Já vi pessoas penduradas na rede pelo pé", contou Leo Lindoso, sempre presente nos jogos em Copacabana. "Isso não é agradável. É preciso ter cuidado".

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A maioria dos jogadores sabe que não deve tentar um Ataque de Tubarão a menos que receba um passe perfeito, explicou Lindoso. Na maior parte do tempo, os times mandam um toque logo acima da rede ou tentam atrair os oponentes em uma direção e invertem a bola para o outro lado.

Leonardo Souza, porteiro em Botafogo que joga há 12 anos, disse ter aprendido rapidamente que o Ataque de Tubarão não é para iniciantes. "Machuquei minhas costas e tive que fazer fisioterapia" após tentar a jogada, afirmou ele.

A maioria dos jogadores concorda que a habilidade mais útil é o controle com o peitoral. Isso pode ser um pouco mais desafiador para as jogadoras mulheres, explicou Aline Teixera, médica no Rio que tenta jogar partidas competitivas várias noites por semana. Segundo Teixera, a maioria das mulheres geralmente tenta receber a bola mais perto dos ombros.

Ela contou ter jogado até os sete meses de gravidez, tendo voltado ao esporte oito semanas após o parto.

Eduardo Alessandro Paiva, também conhecido como Magrão, foi um dos melhores jogadores no Brasil e competiu internacionalmente na década de 2000. Hoje ele trabalha como engenheiro de petróleo e joga apenas esporadicamente.

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"O dinheiro não é bom", argumentou ele. "Futevôlei é um esporte que abre portas – ele não garante sua vida".

Para a maioria dos brasileiros, isso já está bom. As partidas de futevôlei geralmente surgem no final do dia de trabalho, e olhando de perto, muitas vezes é possível ver maços de notas enrolados nas laterais das redes. Apostar nos jogos é comum.

Romário, ex-astro do futebol brasileiro que hoje atua na política, é um frequente jogador de futevôlei em seu bairro natal, a Barra. E ele aposta? Romário sorri. "Isso mantém as coisas interessantes", afirmou ele.

Souza, o porteiro de Botafogo, contou que trabalha até 19h00 quase todos os dias, e então vai para a praia jogar.

Seus jogos são geralmente por R$50 a R$100, com cada partida jogada até 18 pontos. Souza já viu partidas com apostas 10 vezes mais altas, embora prefira um nível mais baixo. Para ele, e para muitos outros jogadores, o futevôlei é areia, suor e oportunidade, e - somente talvez - saltar alto e conseguir um Ataque de Tubarão perfeito.

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Pelo menos, disse Teixera, os jogadores sabem que haverá muita ação.

"Eu gosto de futebol, mas prefiro o futevôlei", explicou ela. "O futebol pode ser um pouco irritante. São 45 minutos, e às vezes nada acontece. No futevôlei, sempre tem alguma coisa acontecendo".