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Pássaros que voam em V, como os íbis-calvos, usam o ar ascendente gerado pela ave à sua frente para poupar energia | Markus Unsöld
Pássaros que voam em V, como os íbis-calvos, usam o ar ascendente gerado pela ave à sua frente para poupar energia| Foto: Markus Unsöld

Pássaros de mesma plumagem podem voar juntos, mas nunca se soube com certeza por que eles voam juntos em formações em V. Observando 14 íbis-calvos-do-norte —equipados com sensores— em uma migração de 960 quilômetros da Áustria até a Toscana, no norte da Itália, pesquisadores mostraram que a formação ajuda as aves a economizar energia. Os cientistas relataram na revista "Nature" que os íbis se posicionavam em locais que eram ideais do ponto de vista aerodinâmico, permitindo que aproveitassem os redemoinhos de ar ascendente gerados pelas asas dos pássaros à frente. O líder, o íbis que está na dianteira do grupo, não se beneficia do empuxo, mas essa posição é revezada.

As aves usavam coletores de dados, feitos sob medida, que permitiam que os pesquisadores acompanhassem o bater de asas, a velocidade e a direção. Pesando menos de 30 gramas, os dispositivos incluíam um acelerômetro, um giroscópio, um magnetômetro, um cartão de memória, uma bateria, um microcontrolador e uma unidade de GPS, "muito melhores que os do seu iPhone", disse Jim Usherwood, do Real Colégio de Veterinária da Inglaterra.

"Dez anos atrás, isso não teria sido possível em termos de tamanho e frequência de amostragem", disse Steven J. Portugal, pesquisador na mesma instituição.

O hardware e o software para analisar os conjuntos de dados são "os grandes avanços, permitindo a observação de comportamentos de animais sob condições naturais", disse Andrew A. Biewener, diretor da Estação Concord Field da Universidade Harvard e professor de biologia evolucionária, que não participou do estudo.

Os pesquisadores analisaram as posições das aves durante sete minutos de voo e compararam essas observações com previsões teóricas geradas por modelos aerodinâmicos.

Os redemoinhos de ar ascendentes, chamados vórtices de ponta, são um subproduto do voo alado, segundo Kenny Breuer, professor na escola de engenharia e professor de ecologia e biologia evolucionária na Universidade Brown em Providence (EUA). Com David Willis e outros colegas, ele desenvolveu as previsões. Enquanto as asas empurram o ar para baixo para gerar empuxo, outro ar se ergue à direita e à esquerda das asas, formando os vórtices. As asas de aviões também os produzem, e às vezes podemos vê-los como rastros de vapor.

Mas o rastro de uma ave é mais complexo que o de um avião. "A força desses vórtices de ponta varia durante a fase do bater das asas", disse o doutor Breuer. "Existe uma posição favorita em que a ave quer voar e uma fase favorita em que ela quer bater asas para tirar vantagem da ave que está na dianteira do grupo."

Uma análise de 24 mil batidas de asa mostrou que os íbis adaptavam a posição e a fase de asa para otimizar o empuxo dos vórtices, reajustando essas fases quando mudavam de posições dentro do V. O novo estudo não diz quanta energia os íbis economizaram com essas manobras, mas pequenos ganhos podem ser úteis em longas migrações, segundo especialistas.

Outra questão em aberto é como as aves sabem voar nesses lugares ideais. O doutor Usherwood disse que os pássaros podem ter "bons sensores" e se adaptar para encontrar locais que parecem bons.

Quanto aos íbis, eles chegaram à Toscana em setembro de 2011. Deverão passar alguns anos lá e então, se tudo correr bem, migrar de volta para Salzburgo. "Esta primavera [no hemisfério norte, outono no Brasil] seria a primeira estação em que eles pensariam em voltar", disse o doutor Portugal. "Este será um ano revelador."

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