Uma equipe internacional de cientistas, veterinários e tratadores se reuniu no Zoológico de Suzhou, perto de Xangai. Sua desesperada missão: a primeira tentativa de inseminar artificialmente uma tartaruga de casco mole, na esperança de salvar essa espécie do desaparecimento.
“Mesmo se conseguirmos apenas um ou dois filhotes, ficarei muito feliz”, disse Gerald Kuchling, líder de projeto da Aliança para a Sobrevivência das Tartarugas, organização sem fins lucrativos. “Mesmo um só já daria esperanças para a recuperação desse magnífico animal.”
A tartaruga gigante de casco mole do Yangtze —supostamente a maior tartaruga de água doce do mundo— já foi comum nos rios Yangtze e Vermelho. Mas, no final da década de 1990, a poluição, a caça, as barragens e o desenvolvimento urbano deixaram o animal à beira da extinção.
Restam apenas quatro espécimes conhecidos, e apenas um do sexo feminino —uma tartaruga de 85 anos que vive no Zoológico de Suzhou. Há anos os biólogos tentam estimulá-la a gerar descendentes com seu parceiro, de cem anos. No entanto, seus ovos nunca estiveram fertilizados.
Em 6 de maio, Kuchling e Lu Shunqing, da ONG Wildlife Conservation Society, fizeram um exame no macho de 60 quilos. Eles anestesiaram a tartaruga e usaram uma sonda elétrica para induzir uma ereção peniana parcial.
O pênis da tartaruga gigante de casco mole do Yangtze se parece com uma arma medieval. Tem espinhos carnudos, protuberâncias e lobos, de forma a permitir sua movimentação por um órgão reprodutivo feminino igualmente complexo, localizado dentro de uma bizantina câmara chamada cloaca. O problema ficou imediatamente claro para os cientistas: o pênis do macho estava mutilado.
Duas décadas antes, outra tartaruga gigante de casco mole havia sido colocada no tanque do macho, numa tentativa de promover o acasalamento. Só que a segunda tartaruga também era do sexo masculino, e os dois lutaram. O segundo macho foi morto, enquanto o vencedor sofreu graves danos na carapaça e, soube-se agora, no órgão reprodutor.
A equipe também analisou o esperma do macho, extraído com a ajuda de estímulos elétricos. Embora a motilidade fosse baixa, os espermatozoides eram viáveis. Os cientistas decidiram prosseguir com a inseminação artificial.
Acredita-se que haja no Vietnã duas outras tartarugas machos de casco mole do Yangtze, sendo uma delas no lago Hoan Kiem, no centro de Hanói. Mas esses animais “estão praticamente inacessíveis para qualquer não vietnamita”, segundo Kuchling, e por isso um programa de procriação colaborativa parece improvável.
Quando a fêmea depositar sua próxima ninhada, até o final de junho, os cientistas saberão se houve resultado. “Ninguém nunca fez isso antes”, disse Kuchling. “Mas estamos esperançosos.”