A Nicarágua deportou nesta semana um jornalista estrangeiro que vinha cobrindo a onda de protestos contra o ditador Daniel Ortega. Carl David Goette-Luciak, repórter austríaco-americano, foi detido em sua casa em Manágua na segunda-feira (1º) e interrogado por horas pelas forças de segurança antes de ser transportado de avião para El Salvador.
Após ser deportado, Goette-Luciak declarou ao jornal nicaraguense Confidencial que foi levado de sua casa praticamente nu e que, embora não tenha sido agredido, foi ameaçado de tortura pelos agentes de segurança. “Um policial me disse que iriam me deportar porque em meus artigos eu escrevia e opinava sobre coisas falsas, e também por participar em manifestações clandestinas”, relatou.
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Ele também contou que, ao ser deportado, entregaram-lhe uma mala que estava em sua casa, na qual haviam colocado lixo e algumas mudas de roupa. “Eu não sei se roubaram a minha casa, se levaram meus computadores e discos rígidos”, disse.
Goette-Luciak vivia na Nicarágua há alguns anos, e, com o início da onda de protestos contra o regime de Ortega, em abril, ele passou a escrever sobre a situação no país para veículos internacionais, como o Washington Post e o The Guardian.
Difamação
Semanas antes de ser deportado, Goette-Luciak vinha sendo alvo de uma campanha de difamação nas redes sociais. Em uma série de posts, ele teve dados pessoais divulgados e foi acusado de ser um agente da CIA (serviço secreto americano) que agia para desestabilizar o país.
“Liberação de informações e incitação à violência contra um jornalista são atos inaceitáveis de intimidação”, disse, em nota, Natalie Southwick, coordenadora do CPJ (Comitê para a Proteção de Jornalistas), uma ONG sediada em Nova York.
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“As autoridades nicaraguenses devem tomar medidas imediatas para encontrar os responsáveis; pelas ameaças contra Carl David Goette-Luciak e garantir que eles enfrentem a Justiça.”
A repressão das forças de segurança da Nicarágua contra os manifestantes já deixou mais de 300 mortos. Dentre eles está a estudante brasileira Raynéia Gabrielle Lima, 31, morta a tiros em Manágua em julho.
Nos últimos 11 anos, Ortega se consolidou no poder por meio de alterações na Constituição, da expulsão de políticos de oposição e de uma eleição questionada que lhe deu, em 2016, o terceiro mandato.