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A ditadura da Nicarágua, liderada por Daniel Ortega, naturalizou nesta segunda-feira (14) o jornalista americano Benjamin Daniel Norton, por meio de uma resolução emitida pelo Ministério do Governo.
A naturalização de Norton, conhecido por ser um propagandista de regimes como o da própria Nicarágua e o da Venezuela, gerou preocupações entre opositores do regime sandinista, que apontaram sua ilegalidade e controvérsia.
Norton esteve na Nicarágua pela primeira vez em 2018, afirmando ser um jornalista investigativo do site GrayZone News, mas rapidamente chamou a atenção da população ao expressar abertamente sua admiração por regimes autoritários e pelo ditador Daniel Ortega.
Em 2019, Norton ganhou ainda mais visibilidade na Nicarágua, após realizar uma entrevista com Ortega, durante a qual foi elogiado pelo líder sandinista.
O americano causou a irritação dos opositores do regime sandinista quando entrevistou em 2018 o jornalista Miguel Mora, que era diretor do site 100%Noticias. Na entrevista, abordou os protestos contra o regime de Ortega. Quando a entrevista realizada por Norton foi divulgada, Mora o acusou de ter de manipulado suas declarações para adequá-las à narrativa da ditadura.
Mais tarde, durante as eleições presidenciais de 2021, quando diversos candidatos de oposição foram detidos em um processo eleitoral amplamente questionado, Norton fez declarações e matérias apontando que a baixa participação popular nas eleições havia ocorrido devido à falta da organização de filas nos centros de votação.
Para os opositores, Ortega violou sua própria lei de imigração ao conceder cidadania a Norton. Segundo eles, o processo de cidadania do americano não está em conformidade com o artigo 53 da Lei 761 ou Lei Geral de Migração e Estrangeiros, que afirma que a nacionalidade nicaraguense é concedida a estrangeiros que comprovarem residência contínua de quatro anos a partir da obtenção da cédula de residência permanente no país. Norton está na Nicarágua há pouco mais de dois anos.
A medida também se insere em um contexto mais amplo de concessões controversas de cidadania por parte do regime de Daniel Ortega. Entre 2021 e 2022, o ditador naturalizou 81 estrangeiros que são simpatizantes do regime sandinista. Enquanto isso, diversos opositores da ditadura seguem sendo expulsos do país e tendo sua cidadania retirada de forma arbitraria.