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Regime sandinista

Nicarágua tira nacionalidade de 19 religiosos considerados “traidores”, diz estudo

O ditador da Nicarágua, Daniel Ortega, em julho de 2022, durante a celebração do 43º aniversário da Revolução Sandinista, em Manágua (Foto: EFE/Jorge Torres)

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Ao menos 19 religiosos da Nicarágua, incluindo os bispos Rolando Álvarez e Silvio Báez - preso e exilado, respectivamente -, foram declarados "traidores da pátria" e perderam a nacionalidade do país centro-americano, de acordo com um estudo apresentado nesta quarta-feira (4).

A quarta parte do estudo intitulado "Nicarágua: uma Igreja perseguida?", da pesquisadora nicaraguense exilada Martha Patricia Molina, indica que os 19 religiosos que tiveram a nacionalidade retirada (dois bispos, 14 sacerdotes, um diácono e dois seminaristas) fazem parte dos 667 ataques que a Igreja Católica na Nicarágua sofreu do regime liderado por Daniel Ortega em um período de cinco anos e quatro meses.

Esses ataques, que ocorreram entre abril de 2018, quando eclodiram as manifestações contra a ditadura de Ortega, e agosto de 2023, incluem a prisão do bispo Álvarez, que foi condenado em fevereiro a 26 anos e quatro meses de prisão por crimes considerados traição, depois de se recusar a deixar a Nicarágua.

Molina disse que, até 31 de agosto, um bispo e oito padres foram presos na Nicarágua, e três outros religiosos estão sendo investigados, incluindo o cardeal nicaraguense Leopoldo Brenes, além de exílios, banimentos e expulsões

Entre eles, a pesquisadora mencionou o caso do núncio apostólico na Nicarágua, dom Waldemar Stanislaw Sommertag, que foi expulso pelo regime sandinista em março do ano passado, e o do bispo auxiliar de Manágua, Silvio Báez, que deixou o país em 2019 por motivos de segurança e a pedido do papa Francisco.

Ela afirmou que as principais pessoas afetadas por essas medidas foram 83 freiras ou irmãs religiosas de várias congregações e 58 padres, que foram expulsos da Nicarágua ou forçados ao exílio, principalmente.

Além disso, de acordo com o estudo, 13 propriedades pertencentes à Igreja Católica foram "confiscadas" pelo Estado nicaraguense, apesar do fato de que o artigo 44 da Constituição do país proíba o confisco de propriedades.

A ditadura também fechou "arbitrariamente" quatro universidades, dois institutos, 15 meios de comunicação, sete congregações religiosas e 11 projetos e obras sociais da Igreja Católica nicaraguense, segundo Molina.

O estudo, dividido em quatro capítulos, também detalha a proibição de 3.240 procissões, a maioria delas durante a Semana Santa.

A pesquisa apontou 90 hostilidades contra a Igreja documentadas em 2018, 84 em 2019, 62 em 2020, 55 em 2021, 171 em 2022 e 295 até agosto de 2023, ano descrito como o "mais sombrio para a Igreja Católica" no país.

Entre os tipos de ataques registrados, a pesquisadora mencionou cercos, repressão a religiosos, impedimento de entrada em igrejas, fechamento de ONGs e meios de comunicação católicos, proibição de atividades religiosas, pichações e mensagens de ódio, roubo e profanação, entre outros.

Martha, que está em exílio forçado e integra o conselho editorial do jornal nicaraguense La Prensa, disse durante a apresentação do estudo que foram fiéis não ordenados que documentaram os ataques à Igreja Católica.

Ela não descartou que o número de agressões seja maior, devido ao fato de que "há pouca ou nenhuma denúncia por parte das autoridades religiosas e o crescente medo e prudência dos laicos ou membros de grupos religiosos para documentar as hostilidades".

No caso das igrejas evangélicas, o estudo registrou 70 ataques, principalmente fechamento de ONGs cristãs e confisco de bens, repressão contra pastores e fechamento "arbitrário" de veículos de comunicação, universidades e projetos sociais.

"A Igreja Católica e a igreja cristã evangélica estão sendo cruelmente perseguidas pela ditadura sandinista", ressaltou Martha.

O papa Francisco chamou o governo sandinista de "ditadura grosseira" em uma entrevista ao portal Infobae na qual apontou "um desequilíbrio na pessoa que comanda o país”, em referência ao ditador Ortega.

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