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Parceria entre regimes

Nicarágua utiliza tecnologia russa para espionar opositores de Ortega e embaixadas

Nicarágua utiliza tecnologia russa para espionar opositores de Ortega e embaixadas
O ditador da Nicarágua, Daniel Ortega (Foto: EFE/Presidencia Nicaragua)

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Uma base militar localizada no sul de Manágua, capital da Nicarágua, pode ser neste momento um dos principais centros de espionagem operados pela Rússia na América Latina e isso também está beneficiando o regime sandinista de Daniel Ortega, segundo uma reportagem do jornal nicaraguense independente Confidencial.

A instalação militar, que é protegida pelo Exército da Nicarágua, abriga atualmente a Direção de Inteligência e Contrainteligência Militar (DICIM) do regime sandinista e conta com sofisticados sistemas de espionagem desenvolvidos pela ditadura de Vladimir Putin. Conforme apurou o jornal, esses sistemas têm sido utilizados tanto em benefício da Rússia na região quanto para monitorar opositores do regime de Daniel Ortega e embaixadas estrangeiras que estão localizadas no país centro-americano.

Segundo o Confidencial, a base militar está equipada com um sistema de radiogoniometria — capaz de localizar geograficamente sinais telefônicos, televisivos e de rádio — e com o software russo SORM-3, que permite interceptar e monitorar comunicações de dispositivos eletrônicos.

O regime sandinista justifica o uso das tecnologias de espionagem russa como parte de uma estratégia para proteger a Nicarágua de supostas ameaças externas e internas. No entanto, fontes disseram ao Confidencial que elas são de fato utilizadas pela ditadura de Ortega para vigiar possíveis “traidores” e inimigos internos da ditadura que controla a Nicarágua.

"O acesso [à base] é muito restrito. [Lá] Eles [os russos] rastreiam todo tipo de comunicações, especialmente as de embaixadas, principalmente as gringas (sic). Também monitoram alguns números internos, embora isso seja acompanhado mais de perto pela Polícia Nacional [a força militar de Ortega]", disse uma das fontes anônimas ao Confidencial. “A DICIM está totalmente subordinada à tecnologia russa. Nenhum [militar] nicaraguense sabe até onde vai seu controle de rastreamento e escuta", acrescentou a fonte.

Fontes ligadas ao Exército da Nicarágua disseram anonimamente ao jornal que a instalação militar e a operação dos equipamentos que lá estão são, neste momento, supervisionadas diretamente por oficiais russos, enquanto os militares nicaraguenses realizam funções de apoio, como prestação de segurança e fornecimento de infraestrutura.

A base militar com tecnologia de espionagem russa citada pelo Confidencial está localizada em Mokorón, uma área montanhosa com vasta vegetação que fica no sul de Manágua. Ela está sob proteção de altos muros e militares fortemente armados. Segundo o jornal, a escolha dos russos pela base situada em Mokorón foi estratégica, justamente por estar em uma zona elevada, o que facilita a transferência de dados via satélite. A vista aérea da base, revelada pelo Confidencial, mostra uma série de enormes antenas parabólicas no local, projetadas para otimizar a comunicação e a coleta de informações.

“Em Mokorón, há um total de cinco antenas parabólicas: a 'gigante', uma grande, duas médias e uma pequena, segundo imagens de satélite obtidas através do Google Earth”, cita o Confidencial.

O uso das tecnologias russas, especialmente o SORM-3 (sistema desenvolvido para o Serviço Federal de Segurança da Rússia [FSB, ex-KGB] para espiar opositores do Kremlin), permite que a Nicarágua realize uma vigilância abrangente sobre qualquer indivíduo que vive no país, o que inclui a interceptação de telefonemas, mensagens de texto, e-mails e até mesmo transações financeiras.

Embora as operações de vigilância realizadas com o SORM-3 estejam formalmente sujeitas à autorização judicial na Nicarágua, a independência do Poder Judiciário no país é amplamente questionada, dado o controle exercido pelo regime de Ortega sobre as instituições estatais.

Treinamento em repressão e espionagem

A presença russa na Nicarágua, bem como a implantação de suas tecnologias de espionagem, tem aumentado desde as manifestações populares realizadas em 2018 contra a ditadura de Ortega.

Segundo informou o jornal nicaraguense, há evidências de que o regime russo de Putin tem treinado as forças de segurança da Nicarágua em técnicas avançadas de repressão e espionagem, com o objetivo de ampliar a capacidade da ditadura sandinista de controlar e intimidar qualquer forma de dissidência interna. No começo deste ano, o Confidencial informou sobre a construção de uma unidade policial que, segundo especialistas, iria servir de fachada para que a Rússia implantasse serviços de espionagem no país que estariam a serviço de Ortega.

Em entrevista ao Confidencial, Douglas Farah, jornalista e especialista em segurança nacional, destacou o interesse estratégico da Rússia por trás da utilização da base em Mokóron. Segundo ele, o país de Putin tem tentado expandir sua presença militar na América Latina desde o fim da Guerra Fria e a área montanhosa da Nicarágua, onde fica localizada a base, oferece uma posição geográfica vantajosa para monitorar diversas atividades, inclusive nos Estados Unidos

“Desde que terminou a Guerra Fria, a Rússia tem procurado se aproximar o máximo possível dos Estados Unidos com algumas bases. Então, a base de Mokorón serve para tudo. Eles estão no lado certo do [da linha] Equador para monitorar muitas coisas nos Estados Unidos [...] para monitorar tudo o que vem das embaixadas, dos opositores, daqueles que o regime chama de ‘traidores’, para vigiar suas atividades com equipamentos super sofisticados, entre os mais sofisticados do mundo”, disse Farah.

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