Menton, França Philippe le Roux, ex-empresário do setor de perfumes, não tem dúvida: a França vai dominar o mundo novamente. Para isso, "precisa de um Napoleão Bonaparte". Não o que perdeu a batalha de Waterloo para os ingleses, mas o que fez a Europa tremer diante de suas conquistas. Na versão 2007, o Napoleão de seus sonhos tem nome: Nicolas Sarkozy, o político de direita mais popular da França, candidato às eleições presidenciais do próximo dia 22 pelo UMP. "Ele não será um Napoleão militar, mas econômico. Com Sarkozy, a França vai dominar o mundo novamente", assegura.
Aos 60 anos, aposentado, Le Roux é de Menton. O clima ameno transformou o lugar num paraíso para os idosos do país, na Flórida da França. Um terço de seus 30 mil habitantes tem mais de 60 anos. Basta olhar o número de cabelos brancos pelas ruas. Aqui, só se aposenta quem está bem de vida: o metro quadrado custa 4.700 euros. Não se vê mendigos na rua e a "extrema-esquerda", bandeira que muitos jovens parisienses gostam de exibir, provoca risadas.
Ségolène Royal, a candidata do Partido Socialista, não tem a menor chance aqui. "Idoso tem tendência a ser conservador. Não somos revolucionários. A maior parte dos moradores de Menton é de direita", explica Claude Jacquet, parisiense de 66 anos, que vendeu o que tinha na capital para se instalar em Menton com a mulher Graziella, de 62 anos.
Claude Jacquet foge da regra: vai votar em François Bayrou, do UDF, um centrista. Uma ousadia numa cidade onde Sarkozy é quase rei. No escritório do UMP, partido de Sarkozy, quem comanda é Ivone, 70 anos, com a ajuda de Odette, 77 anos, ambas de um dinamismo invejável. Sarkozy nem sempre agrada.
De repente, por meio da enorme janela do escritório do UMP, uma mulher mostra a língua para Ivone, num sinal de protesto. Ivone, que se define como francesa au bout des ongles (até as unhas), sorriu: "Aqui, é assim. Tem muita gente que passa e faz o "v" de vitória. E outras, como esta, que mostram a língua", diz ela.
Ivone explica que faz campanha para Sarkozy, sobretudo para ajudar o prefeito Jean-Claude Guibal, do UMP, que está no poder na cidade há 18 anos. Ela o admira. Para ela, a França precisa de mais trabalho e ordem. "O que me incomoda são pessoas que não respeitam o país. Não é racismo. Também não gosto quando franceses não respeitam o país. Precisamos uma mudança. E Sarkozy pode fazer algo."
Anne Pauchant, 55 anos, militante do UMP, que trabalha numa livraria de Menton e orgulha-se de ter assistido ao primeiro discurso da carreira política de Sarkozy, em 1975, em Nice, entrou no escritório pedindo ajuda. Ela explicou que precisava de elementos para convencer seus amigos indecisos. E lamentou que seus melhores amigos sejam "esquerdistas que vomitam quando ouvem o nome de Sarkozy".
Imigrantes
Controle da imigração é um dos temas que ela aprecia em Sarkozy. "Que eles (os imigrantes), ao menos, façam o esforço de aprender um mínimo de francês", diz.
Menton é parte da rica região de Côte dAzur, o "jardim de inverno da aristocracia européia" como definiu o guia Michelin. De Menton rumo a Nice pela Route Nationale 7, passa-se pelo luxuosíssimo Principado de Mônaco, um paraíso fiscal, com seus iates enfileirados no porto e sua coleção de carros luxuosos nas ruas. Dos 30 mil franceses que trabalham em Mônaco, 4.500 são de Menton, segundo o prefeito da cidade. Por uma razão: em Mônaco, o salário é 40% maior. Depois vem o exclusivíssimo Cap Ferrat: ali, só consegue enxergar o Mediterrâneo quem tem mansão à beira-mar.
Há 18 anos no poder, o prefeito de Menton, Jean-Claude Guidal, já fez os cálculos da vitória no dia 22: 30% para Sarkozy, 25% para Royal, e 20% para Bayrou. "Aqui, o vento sopra para a direita", diz ele. Ele explica que historicamente o sul sempre se opôs a Paris: além de rica, é uma região onde estão militares e também os chamados pieds noires, franceses nascidos na Argélia, antiga colônia na África, repatriados para a França a partir de 1962, depois da independência do país.
Nesta parte da França, Jean-Marie Le Pen, o candidato de extrema-direita da Frente Nacional, também causa estrago. Em 2002, na chamada "quarta circunscrição", que inclui 26 comunidades, entre elas, Menton, Le Pen conseguiu 28.02% dos votos, contra 63.52% para Jacques Chirac. Os socialistas obtiveram menos de 20%. Os jovens que o digam.
Como Elizabeth, 20 anos, que trabalha num cabeleireiro em Menton. A duas semanas das eleições, ela faz parte dos 40% de franceses indecisos. "Aqui não há muito espaço para Ségolène Royal", diz.