Violência
"Nosso governo não endossa qualquer hostilidade religiosa"
Os nigerianos de Porto Harcourt formaram o grupo mais chamativo da Conferência Internacional de Cidades Inovadoras 2010. Apesar de viverem em um país com a mesma latitude da Bahia, desfilavam pelo auditório da FIEP vestindo chapéus felpudos e pesados casacos sobre o ombro. Enquanto falavam com a reportagem, os nigerianos atenderam um pouco confusos dois pedidos de fotografia de participantes da conferência.
A disposição dos nigerianos contrasta com o episódio de violência ocorrido no país domingo passado, quando 109 pessoas morreram em um conflito étnico entre cristãos e muçulmanos. Aleruchi Cookey-Gam, administradora pública na cidade de Porto Harcourt, lamenta a violência ocorrida em seu país. "Estes são problemas causados pelo desrespeito das pessoas com os outros. O governo da Nigéria não endossa nenhuma divisão religiosa, e na Nigéria as pessoas são livres para praticar qualquer fé", comenta.
Para ela, problemas educacionais são a causa principal de episódios como este.
"O governo está investindo bastante em educação, inclusive em escolas para adultos. Quem é mais bem educado tem condições de contribuir para o desenvolvimento do país", diz. (OT)
Dentre os projetos apresentados pelos participantes da Conferência Internacional de Cidades Inovadoras de 2010, um dos mais radicais pertence a um grupo de nigerianos membros da administração pública de Porto Harcourt, uma cidade de 2,6 milhões de habitantes no extremo sul do país africano.
Para enfrentar os problemas trazidos pela excessiva concentração urbana, o governo local está "alargando" a cidade. Novos empreendimentos residenciais e comerciais estão sendo construídos no entorno do município, até então desocupado. Após o fim das obras, quando as áreas adjacentes forem interligadas à cidade matriz, uma parte dos cidadãos que hoje vive em favelas será convidada a ir morar nos novos espaços, desinchando a planta original.
O projeto foi lançado no primeiro semestre do ano passado e marcado com o início da construção de um hospital, uma universidade e um campo de golfe. Após o começo dos trabalhos, o nome oficial do projeto Porto Harcourt Maior foi deixado de lado pela população, que passou a adotar o futurístico "Cidade Nova".
O apelido demonstra o tipo de desafio que os nigerianos têm pela frente: criar espaços urbanos a partir do zero priorizando mitigar as deficiências da "cidade velha".
Para Aleruchi Cookey-Gam, administradora do grupo gestor de "Porto Harcourt Maior", a reurbanização se estende ao combate dos problemas sócio-econômicos do país. "Nós, na Nigéria, temos um problema de excessivo êxodo rural. Com isso, as cidades estão explodindo e as favelas se tornam uma questão grave", relata.
Aleruchi aponta como crucial para o sucesso da empreitada a criação de um bom sistema de transporte público. "Com a ocupação dos subúrbios, é essencial que haja meios de locomoção eficientes para evitar que a concentração urbana cresça novamente", explica.
Obstáculos
Para tirar a Cidade Nova efetivamente do papel, a administração de Porto Harcourt precisa enterrar todas as dúvidas sobre a viabilidade do projeto. O principal deles é ambiental. A área a ser abocanhada pela cidade contém mata virgem, o que causa dúvidas sobre a moralidade ecológica do projeto. Os administradores da Cidade Nova assumem os impactos "positivos e negativos" da expansão, e prometem que os prejuízos ambientais serão mitigados. (OT)