Bem na época em que realizava eleições presidenciais (Bola Tinubu, candidato do governo, foi eleito, mas sua vitória está sendo contestada pela oposição), a Nigéria registrou grandes tumultos em fevereiro, devido a uma política de substituição das cédulas de naira, a moeda do país, implementada também com o objetivo de forçar a população a deixar de utilizar dinheiro em espécie.
Tudo começou em outubro, quando o Banco Central anunciou a troca das cédulas, alegando os objetivos de conter a inflação (segundo a instituição, 80% das notas em circulação estavam sendo mantidas fora dos bancos), dificultar a falsificação e desencorajar pagamentos em dinheiro a sequestradores e outros criminosos.
As cédulas antigas de naira seriam aceitas apenas até 31 de janeiro, mas depois esse prazo foi prorrogado para 10 de fevereiro. A medida gerou reação, porque o uso de dinheiro em espécie ainda é a preferência de grande parte da população nigeriana.
Muitos que trabalham na economia informal e na área de transporte na Nigéria não utilizam aplicativos bancários, e a estimativa é que cerca de 40% da população adulta sequer possui conta bancária.
A falta de cédulas, já que as novas não foram emitidas em quantidade suficiente, motivou grandes protestos na Nigéria em fevereiro, com ataques a caixas eletrônicos, bloqueios de estradas e trocas de acusações entre os partidos na reta final da eleição presidencial.
Diante do caos, a Suprema Corte da Nigéria determinou em 8 de fevereiro que as notas antigas deveriam continuar sendo aceitas. Dias depois, o presidente Muhammadu Buhari, que será substituído pelo correligionário Bola Tinubu, anunciou que as notas antigas de 200 nairas ainda seriam aceitas até 10 de abril e que parte delas entrariam novamente em circulação, mas manteve a determinação de que as de 500 e mil nairas fossem remetidas ao Banco Central.
No início de março, a Suprema Corte da Nigéria decidiu de forma unânime estender a validade das notas antigas de naira dos três valores até 31 de dezembro e criticou Buhari por desobedecer à determinação de 8 de fevereiro.
“A desobediência à ordem judicial mostra que a democracia do país existe como mera teoria e agora foi substituída pela autocracia”, apontou a corte, em comunicado.
O Estado nigeriano nunca escondeu que outro objetivo da medida era substituir o dinheiro em espécie por mecanismos digitais de pagamento. “O objetivo, no que me diz respeito, é alcançar uma economia 100% sem dinheiro em espécie na Nigéria”, apontou o presidente do Banco Central, Godwin Emefiele.
Antes da desastrada troca de cédulas, o governo adotou medidas para estimular os pagamentos digitais, como descontos para quem utilizasse esse método para pagar corridas de táxi. Entretanto, o resultado não foi o esperado.
Ayokunle Olubunmi, presidente da principal agência de classificação de risco da Nigéria, Agusto and Co., disse à agência Associated Press que hábitos de décadas da população não podem ser modificados com imposições e prazos severos.
“[O Banco Central] não quer que usemos dinheiro [em espécie]. Eles querem que façamos transações eletrônicas, mas não é possível impor por lei uma mudança de comportamento”, disse Olubunmi. “Você precisa apresentar seus argumentos para a população e assegurar que esses canais [de pagamentos digitais] sejam confiáveis.”
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