Como ainda é possível, em pleno século 21, que os direitos das mulheres ainda não sejam reconhecidos?
Há mais de um mês, mais de 200 meninas foram sequestradas na Nigéria pelo grupo extremista islâmico Boko Haram, que afirmou que iria vendê-las ou condená-las a casamentos forçados.
Um detalhe chama a atenção nesse episódio lamentável: as meninas em questão foram levadas de uma escola de Chibok. Estudar, por si só, representa um ato de resistência frente a certas visões extremistas que condenam o acesso das mulheres à educação... e, obviamente, à participação social, política e econômica, sob o risco de passarem a ocupar outras funções na sociedade, que subvertem as relações de opressão impostas historicamente às mulheres.
Sabe-se, segundo dados de 2013 da Organização Mundial da Saúde (OMS), que mais de um terço de todas as mulheres do mundo é vítima de violência física ou sexual. Ainda de acordo com a OMS, milhões de meninas entre cinco e 15 anos são forçadas a entrar na prostituição a cada ano; pelo menos 130 milhões de mulheres já foram submetidas à mutilação genital; pelo menos 60 milhões de meninas que deveriam estar vivas estão "desaparecidas" em diversos países; os chamados "crimes em defesa da honra" matam milhares de mulheres a cada ano, em especial na Ásia e na África; e incontáveis casos de violência, como agressão e estupro, sequer são denunciados, mascarando estatísticas reais de violação dos direitos humanos das mulheres.
A opressão às mulheres só pode ser explicada sob a luz de relações desiguais de poder atravessadas por hierarquias de gênero. E não pode ser aceitável, nem tolerável, sob o risco de se perpetuar com desconfortante naturalidade diante de contextos de violação da liberdade e da dignidade humanas, a exemplo do que se passa com as meninas da Nigéria e com outras mulheres mundo afora.
As mulheres não estão seguras nem em casa, nem nas ruas, nem mesmo nas escolas. E é essa condição de vitimização que precisa ser revertida com políticas públicas efetivas e com o fortalecimento dos movimentos em defesa dos direitos das mulheres, para que a conquista da autonomia, da liberdade e da cidadania plena das mulheres seja possível em um mundo marcado por contrastes e contradições.
Karina Janz Woitowicz, professora do curso de Jornalismo e do mestrado em Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa, doutora em Ciências Humanas e coordenadora de um grupo de pesquisa de Jornalismo e Gênero.