Momento da explosão em Beirute | Foto: GABY SALEM/ESN/AFP| Foto:
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Investigadores libaneses começaram a vasculhar os destroços no porto de Beirute nesta quarta-feira (5) atrás de explicações sobre o que causou as explosões que destruíram metade da cidade no dia anterior. Até agora sabe-se que uma das estruturas que explodiu, o Hangar 12 do porto de Beirute, era um armazém onde estavam estocadas 2.750 toneladas de nitrato de amônio, substância usada na fabricação de fertilizantes, mas que também é o principal componente em muitos tipos de explosivos de mineração.

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Nitrato de amônio

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Porém, o nitrato de amônio não explode por conta própria. É necessário que haja uma fonte de calor perto, como um incêndio, segundo explicou Gabriel da Silva, professor de Engenharia Química da Universidade de Melbourne, em artigo para o The Conversation. Quando há calor suficiente e contaminação com algum tipo de combustível, o processo de decomposição do nitrato de amônio cria gases, incluindo óxidos de nitrogênio e vapor de água, que, se liberados rapidamente, causam uma explosão.

Apesar de ser relativamente difícil, explosões com nitrato de amônio já aconteceram anteriormente. A última vez foi em 2015, em Tianjin, na China, quando 173 pessoas morreram em uma explosão em uma fábrica, onde produtos químicos inflamáveis foram armazenados junto com nitrato de amônio.

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Antes da grande explosão que ocorreu em Beirute nesta terça, uma coluna de fumaça na região do porto era vista de longe, indicando que havia um incêndio no local ou nas proximidades. Os primeiros relatos que saíram na imprensa falavam sobre um incêndio em um depósito de fogos de artifício. Especialistas afirmaram que a cor avermelhada da fumaça se dava pela presença de o dióxido de nitrogênio, um dos produtos químicos que podem ser produzidos quando o nitrato de amônio se decompõe.

Armazenamento

Documentos divulgados pela imprensa internacional nesta quinta-feira mostraram que as toneladas de nitrato de amônio estavam armazenadas no porto de Beirute em condições precárias há pelo menos seis anos, e que funcionários do governo libanês sabiam disso e estavam cientes dos riscos.

A carga de nitrato de amônio chegou ao Líbano em setembro de 2013, a bordo de um navio de carga de propriedade russa com uma bandeira da Moldávia. O Rhosus, de acordo com informações do site de rastreamento de navios, Fleetmon, estava indo da Geórgia para Moçambique. O navio foi forçado a atracar em Beirute depois de enfrentar problemas técnicos no mar, segundo advogados representando a tripulação do barco. Mas as autoridades libanesas impediram a embarcação de navegar e o navio foi abandonado por seus proprietários e tripulação, segundo reportagem da emissora Al Jazeera.

A carga perigosa do navio foi descarregada e colocada no Hangar 12 do porto de Beirute, uma grande estrutura cinza de frente para a principal rodovia norte-sul do país, na entrada principal da capital. Meses depois, em 27 de junho de 2014, o então diretor da Alfândega Libanesa Shafik Merhi enviou uma carta endereçada a um "juiz de assuntos urgentes", pedindo uma solução para a carga, segundo documentos compartilhados online e divulgados pela Al Jazeera.

Os funcionários aduaneiros enviaram pelo menos mais cinco cartas nos três anos seguintes - em 5 de dezembro de 2014, 6 de maio de 2015, 20 de maio de 2016, 13 de outubro de 2016 e 27 de outubro de 2017 - pedindo orientação. Eles propuseram três opções: exportar o nitrato de amônio, entregá-lo ao exército libanês ou vendê-lo à uma empresa libanesa de explosivos de propriedade privada. Uma carta enviada em 2016 diz que "os juízes não responderam" a pedidos anteriores.

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A carta, obtida pela Al Jazeera, alega: "Em vista do sério risco de manter esses produtos no hangar em condições climáticas inadequadas, reafirmamos nosso pedido de solicitar à agência marítima que reexporte esses produtos imediatamente para preservar a segurança do porto e daqueles que trabalham aqui, ou em concordar em vendê-lo para a Lebanese Explosives Company."

Mais uma vez, não houve resposta. Um ano depois, Badri Daher, o novo diretor da Administração Aduaneira do Líbano, escreveu a um juiz mais uma vez.

Na carta de 27 de outubro de 2017, Daher pediu ao juiz que tomasse uma decisão sobre o assunto em vista do "perigo ... de deixar esses produtos no local em que estão e para aqueles que trabalham lá".

Quase três anos depois, o nitrato de amônio ainda estava no hangar.

O primeiro-ministro do Líbano, Hassan Diab, declarou na terça-feira (4) que a explosão no porto foi "um grande desastre nacional" e prometeu que "todos os responsáveis por essa catástrofe pagarão o preço".

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O presidente libanês, Michel Aoun, chamou o fracasso em lidar com o nitrato de amônio como "inaceitável" e prometeu a "punição mais severa" aos responsáveis. Uma investigação foi iniciada e o comitê deve encaminhar suas conclusões ao judiciário dentro de cinco dias, porém, o governo já ordenou a prisão domiciliar de um número desconhecido de funcionários do porto de Beirute.

O governo também declarou estado de emergência por duas semanas, dando aos militares plenos poderes durante esse período.

Corrupção

A causa da explosão ainda não está clara, mas muitos libaneses foram rápidos em apontar o que eles acreditam ser a causa principal: a imensa corrupção e má administração em um estado quebrado administrado por uma classe política corrupta que, segundo eles, trata os habitantes do país com desprezo.

O porto da cidade é conhecido localmente como "Caverna de Ali Baba e os 40 Ladrões", pela grande quantidade de fundos estatais que foram roubados por décadas.

As alegações incluem desvios de bilhões de dólares em receita tributária que nunca chegaram ao tesouro do Líbano e devido a esquemas para subestimar as importações, bem como acusações de suborno sistemático e generalizado para evitar o pagamento de impostos alfandegários.

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"Beirute se foi e aqueles que governaram o país nas últimas décadas não podem se safar disso", disse Rima Majed, ativista política e socióloga libanesa em um tuíte. "Eles são criminosos e este é provavelmente o maior de seus (muitos) crimes até agora".