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No Chile, maioria dos infectados e internados em UTI não completou esquema de vacinação

Subsecretário de Redes Assistenciais do Ministério da Saúde do Chile, Alberto Dougnac, em coletiva de imprensa nesta quinta-feira. (Foto: Reprodução/Twitter)

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Enquanto os países do hemisfério Norte com alta taxa de vacinação contra Covid-19 já estão começando a retornar a uma certa normalidade, com o relaxamento das restritivas regras de circulação, o Chile, que já imunizou quase 60% de sua população – 46% com as duas doses – e tem uma das campanhas de vacinação mais avançadas do mundo, anunciou nesta quinta-feira o retorno a uma quarentena na região metropolitana de Santiago, em meio a um aumento de casos da doença no país. A decisão gerou críticas até mesmo entre os aliados do presidente Sebastián Piñera.

De acordo com o relatório apresentado pelo Ministério da Saúde do Chile, nesta quinta-feira foram registrados 7,7 mil casos de Covid-19 no país – metade deles na região metropolitana. Os dados oficiais mostram também que 73% do total de pacientes infectados nesta quinta-feira não completou o esquema de vacinação – ou seja, não tomou a segunda dose – e 74% tem menos de 50 anos.

Um estudo preliminar publicado em abril pelo Ministério da Saúde do país informou que a taxa de proteção da Coronavac após a aplicação da primeira dose era de apenas 16% (35% para prevenir hospitalização e 40% para evitar morte), o que reforça a importância da aplicação das duas doses da vacina. A vacina chinesa é a mais usada na campanha de imunização do Chile, com mais de 16 milhões de doses aplicadas até agora, enquanto que as vacinas da Pfizer, AstraZeneca e CanSino somam cerca de 4 milhões de doses aplicadas no país.

Outro dado relevante informado pelo Ministério da Saúde é que 85% dos pacientes internados em UTI por causa da Covid-19 não completaram o esquema vacinal.

"A média de casos que estão internados em leito de terapia intensiva continua muito alta, chegando a mais de 200 pacientes por dia, dos quais 85% não completaram o esquema de vacinação", disse o subsecretário de Redes Assistenciais do Ministério da Saúde do Chile, Alberto Dougnac, em coletiva de imprensa nesta quinta-feira.

O governo também informou que, dos 4.513 leitos de UTI no país, 4.331 estão ocupados – ou seja 96% de ocupação, restando 182 leitos disponíveis. Em relação ao total de leitos ocupados, 3.266 correspondem a casos graves de Covid-19, dos quais 86% precisam de suporte de ventilação mecânica.

Em Santiago, a situação hospitalar está no limite, com 98% dos leitos de unidades de terapia intensiva ocupados, apesar de alguns distritos estarem em regime de confinamento total há mais de nove semanas.

Especialistas em saúde citam uma longa série de possíveis causas para que o Chile não tenha conseguido baixar o número de casos no país: o fato de país ainda não ter conseguido alcançar a imunidade de rebanho (70% da população completamente imunizada); a alta mobilidade da população; novas cepas do Sars-CoV-2, mais transmissíveis, em circulação no país; cansaço da pandemia; falta de cuidados pessoais de higiene e proteção contra o vírus; população vulnerável mais numerosa; alta circulação do vírus; e uma vacina menos eficaz contra infecções do que as usadas no hemisfério Norte.

"Os casos não diminuíram no Chile porque há uma circulação significativa do vírus, uma população não vacinada que é relevante e porque usamos uma vacina que é boa para nos proteger contra mortalidade e doenças graves, mas contra infecções a eficácia não é tão grande", disse ao jornal chile La Tercera o chefe da Clínica Alemana, Luis Miguel Noriega. O especialista defendeu que, por causa disso, ainda é necessário apostar em quarentenas e isolamentos no país para diminuir os casos de Covid-19.

Quarentena em Santiago

"Apesar de que na última semana este aumento [de casos] que vinha a uns 10% diminuiu para 4%, a região metropolitana segue sendo a região onde vivem mais de 8 milhões de chilenos que nos preocupa enormemente (...) Por isso, a partir dos próximos dias toda a RM se encontrará em quarentena", disse a subsecretária de Saúde, Paula Daza, justificando a medida anunciada pelo governo chileno nesta quinta-feira. Outras comunas do país também regressarão à fase mais estrita da quarentena.

A quarentena vale a partir de sábado e é a terceira decretada pelo governo de Piñera – última ocorreu entre 25 de março e 26 de abril. Cerca de 11 milhões de chilenos serão afetados durante o período em que quase 60% do PIB do país estará em quarentena, segundo o Clapes - UC (Centro Latino-Americano de Políticas Econômicas e Sociais). Estarão proibidos: o funcionamento dos restaurantes, pubs e academias, as aulas presenciais, a movimentação para outras regiões diferentes das habituais, reuniões sociais em casa ou eventos público, entre outras restrições. Apenas as atividades essenciais terão permissão para funcionar normalmente.

Só é permitido sair para fazer compras ou procedimentos específicos e essenciais com uma autorização individual, que pode ser obtida em um site do governo – duas por semana e no máximo uma ao fim-de-semana.

Críticas

A decisão foi criticada por entidades empresariais, como a Câmara Nacional de Comércio, que disse que o fechamento é "um novo golpe" para o comércio, os restaurantes e o turismo da região. Até mesmo membros do governo Piñera levantaram a voz contra a volta à quarentena. Uma associação do varejo qualificou a medida como "absurda".

A UDI (União Democrática Independente, de direita) pediu o fim da quarentena e disse que essas medidas "não estão gerando os efeitos desejados, ou seja, contendo ou reduzindo o número de infecções por Covid-19".

"Pudemos observar na prática que as quarentenas não estão sendo cumpridas em muitos lugares do Chile e, ao mesmo tempo, tem sido uma medida que tem impedido milhares de empresários de progredir". O partido também está considerando rechaçar a extensão do Estado de Exceção Constitucional declarado por causa da pandemia e que estará vigente no país até o fim deste mês, quando o governo deverá recorrer ao Congresso para pedir sua prorrogação.

O ministro do Interior, Rodrigo Delgado, defendeu a decisão: "Nunca cuidar da saúde das pessoas vai ser um absurdo".

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