Tony Blair, em sua última visita ao Iraque como primeiro-ministro da Grã-Bretanha, disse no sábado que não tinha arrependimentos sobre sua atuação na invasão comandada pelos Estados Unidos que derrubou Saddam Hussein.
Em sua visita de despedida ao país cujo futuro poderá definir seu legado depois de uma década no poder, Blair encontrou-se com o primeiro-ministro iraquiano Nuri al-Maliki e com o presidente Jalal Talabani para conversar sobre a situação no Iraque, país atualmente assolado pela violência sectária.
"Não me arrependo de ter derrubado Saddam, não", disse Blair em entrevista à imprensa com Maliki e Talabani, depois de reunião sobre a reconciliação política do país.
"O futuro do Iraque deverá ser determinado pelos iraquianos, de acordo com sua vontade, e é importante que todos os países vizinhos entendam e respeitem isso", acrescentou ele.
Um ataque de morteiro, mais um episódio em um dia de atentados, foi realizado na altamente protegida Zona Verde na hora em que Blair chegava, disseram testemunhas. Mas o porta-voz de Blair disse: "Nenhuma informação sugere que (esse incidente) tenha sido algo fora da rotina."
A decisão de Blair de se unir ao presidente George W. Bush e enviar soldados britânicos em 2003, apesar da grande oposição na Grã-Bretanha, foi o momento definidor de seu mandato.
Falando no programa da BBC Newsnight, o ex-presidente Jimmy Carter disse que Blair poderia ter exercido maior influência sobre Bush e seu governo mostrou "subserviência" à Casa Branca na questão do Iraque e outras áreas da política externa.
"Fiquei muito decepcionado com a aparente subserviência das políticas do governo britânico relacionadas a muitos dos sérios erros que se originaram em Washington", disse o ex-presidente de 81 anos.
O ressentimento do público em geral e de seu Partido Trabalhista quanto a seu apoio incondicional a Bush e à guerra acabou o forçando a reduzir seu terceiro mandato. Ele vai deixar o governo em 27 de junho e o ministro das Finanças, Gordon Brown, assumirá como primeiro-ministro.
Mas Blair acredita que houve avanços políticos no Iraque e ele quer discutir um plano coerente com Maliki, a fim de estimular um progresso mais rápido.
"Precisamos tirar vantagem do impulso na política do Iraque para criar o espaço para a segurança de longo prazo", disse o porta-voz oficial de Blair a jornalistas.
"A chave para tanto é a reconciliação, assegurando que as necessidades dos iraquianos de diferentes comunidades sejam levadas em conta adequadamente e que eles cheguem a uma acomodação política duradoura."
Por enquanto, porém, o legado de Blair continua manchado pelo Iraque - apesar de ajudar a trazer a paz na Irlanda do Norte e do sucesso da intervenção militar de Kosovo de Sierra Leone.
A impressão que não se apaga é que Blair levou a Grã-Bretanha à guerra com uma mentira - a de que Saddam tinha armas de destruição em massa. Uma pesquisa do jornal Observer constatou este ano que 58 por cento dos britânicos acreditam que o Iraque foi o maior erro de Blair.
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