Direitos Humanos
Outros dissidentes já receberam o Nobel da Paz:
1960: Albert John Lutuli (África do Sul, 1898-1967) Liderou uma campanha não violenta por direitos civis.
1975: Andrei Sakharov (União Soviética, 1921-1989) Físico nuclear, defendeu os direitos humanos.
1989: Tendzin Gyamtsho (Tibete, 1935) O 14º dalai-lama recebeu o prêmio por usar a paz na defesa da liberdade tibetana.
1991: Aung San Suu Kyi (Mianmar, 1945) Premiada por sua luta pela democracia.
1996: José Ramos-Horta (Timor Leste, 1949) Foi premiado como porta-voz da resistência de seu país.
2003: Shirin Ebadi (Irã, 1947) Foi reconhecida por seu trabalho em prol da democracia.
Preso desde dezembro de 2008, agraciado só saberá hoje de escolha
O dissidente chinês Liu Xiaobo não soube ontem que recebeu o Nobel da Paz de 2010. Ele está incomunicável na prisão de Jinzhou, onde cumpre pena por sua participação na Carta 08, manifesto de intelectuais pela democracia na China.
Estocolmo - O ativista chinês pró-democracia Liu Xiaobo, de 54 anos, sobrevivente do massacre da Praça da Paz Celestial, ocorrido em 1989, e condenado recentemente a 11 anos de prisão, foi nomeado ontem para o Prêmio Nobel da Paz. Pequim rebateu: criticou duramente a escolha, censurou a notícia no país e ameaçou a Noruega com retaliações.
Liu Xiaobo (pronuncia-se "Xiaobô") recebeu o prêmio por "sua luta longa e não violenta em favor dos direitos humanos fundamentais na China", afirmou o Comitê Nobel Norueguês, indicado pelo Parlamento desse país (ao contrário dos outros prêmios, indicados pela academia sueca).
Para o comitê, os recentes avanços econômicos transformaram a China na segunda economia mundial e "tiraram milhares de pessoas da pobreza", mas esse novo status do país "deve incluir maior responsabilidade".
Professor de literatura, Liu foi preso em dezembro de 2008, dias antes da divulgação da Carta 08, assinada por 303 ativistas que defendiam reformas democráticas, incluindo o fim do monopólio do Partido Comunista.
Em dezembro do ano passado, foi condenado a 11 anos de prisão por "atuar para subverter o governo", a pena mais alta aplicada a um dissidente nos últimos anos.
O comitê afirmou que, ao receber punição tão severa, "Liu se tornou o principal símbolo da ampla luta por direitos humanos na China".
Não é a primeira vez que o Nobel da Paz vai para um opositor do regime comunista chinês. Em 1989, ano do massacre da praça da Paz Celestial, o nomeado foi o líder tibetano no exílio, dalai-lama, que ontem exortou Pequim a soltar o dissidente.
Liu é o terceiro Nobel da Paz escolhido enquanto cumpre pena dada por seu próprio governo. Foi precedido da líder oposicionista de Mianmar San Suu Kyi (1991) e pelo ativista alemão Carl von Ossietzky (1935).
Preso a cerca de 500 km de Pequim, ele deve ser informado da premiação hoje, numa visita da mulher (leia acima). Liu tem direito ao equivalente a R$ 2,5 milhões, a um diploma e a uma medalha.
Reação
Como esperado, o governo chinês reagiu com dureza ao anúncio. "Conceder o Nobel da Paz maculou o prêmio e pode afetar os laços entre China e Noruega", disse o porta-voz da Chancelaria chinesa Ma Zhaoxu, em nota.
Ma afirmou que o Nobel da Paz deveria ser concedido a pessoas que "contribuem para a harmonia nacional, para a amizade entre países, para o avanço do desarmamento e para a convocação de conferências de paz", repetindo as diretrizes de Alfred Nobel.
Logo após a anúncio do prêmio, o embaixador da Noruega em Pequim foi convocado pela Chancelaria chinesa para dar explicações.
Em junho, quando o ativista chinês já despontava como favorito ao prêmio, a vice-chanceler chinesa Fu Jing pediu um encontro com o diretor do Instituto Nobel, Geir Lundestad, para lhe advertir de que a nomeação seria considerada "uma ação hostil.
Agraciado com o Nobel da Paz em 2009, o presidente norte-americano, Barack Obama, em nota, elogiou a nomeação de Liu Xiaobo e exortou Pequim a libertá-lo "o mais rápido possível.
Como o comitê do Nobel, Obama elogiou o progresso socioeconômico chinês, mas disse que "não ocorreram as reformas políticas.