O Prêmio Nobel da Paz pode ser ampliando para novas áreas, homenageando também jornalistas, por exemplo, mas tem limites claros e não deve agraciar caçadores de corrupção, disse na segunda-feira um membro da comissão do prêmio.
A abrangência do prêmio concedido desde 1901 vem crescendo ao longo das décadas, deixando de tratar só da promoção da paz, do desarmamento e das atividades humanitárias para se voltar também aos direitos humanos, desde a década de 1960, e para a preservação ambiental, neste século.
"As velhas categorias ainda existem, e a maioria dos prêmios irá para as velhas categorias, mas poderia haver ampliações de definição no futuro", disse Geir Lundestad, diretor do Instituto Nobel Norueguês, à Reuters.
"Sempre acreditamos que há muitos caminhos para a paz, e sempre houve discussões sobre como definir o testamento de Alfred Nobel", disse Lundestad a 11 dias do anúncio do Nobel da Paz de 2008 em Oslo. Entre os mais cotados para este ano estão o dissidente chinês Hu Jia e o futuro primeiro-ministro do Zimbábue, Morgan Tsvangirai, líder da oposição em seu país.
Os Prêmios Nobel foram instituídos no testamento deixado em 1895 pelo filantropo e inventor sueco Alfred Nobel.
Lundestad disse que a comissão de cinco membros se reuniu em 2004 para tentar estabelecer limites à cada vez maior definição de paz, e que na época foi aceita a possibilidade de um prêmio para o jornalismo.
"Há conexões entre a reportagem e a paz? Concluímos que sim", disse Lundestad, secretário do comitê. "Há uma enorme diferença entre a reportagem responsável, que pode desestimular conflitos, e a propaganda sensacionalista, que claramente pode estimular o conflito."
Já o combate à corrupção, segundo ele, foi a principal causa a ser analisada e rejeitada na reunião de 2004. Segundo ele, até pode haver uma correlação com a paz, mas haveria "ligações demais para as pessoas entenderem".
O testamento de Nobel dizia apenas que o prêmio seria concedido "à pessoa que tenha feito o maior ou melhor trabalho pela fraternidade entre as nações, pela abolição ou redução dos exércitos permanentes e pela realização e promoção de congressos de paz".
Puristas criticam a interpretação dada desde o começo ao testamento. A polêmica instaurou-se já no prêmio de 1901, dividido entre o pacifista francês Frederic Passy e o fundador da Cruz Vermelha, Jean Henri Dunant.
Segundo Lundestad, houve na época quem argumentasse contra o prêmio a Dunant, pelo fato de que a Cruz Vermelha não se empenhar na prevenção de guerras.
Os direitos humanos foram incorporados na década de 1960, com a concessão do Nobel da Paz ao líder antiapartheid Albert Lutuli. Polêmico na época, esse tipo de premiação hoje é "comumente aceita", segundo Lundestad.
A abrangência cresceu ainda mais em 2004, com a concessão do prêmio à ambientalista queniana Wangari Maathai, pelo trabalho de reflorestamento na África. Em 2007, o meio ambiente voltou a ser lembrado, com a concessão do Nobel à comissão climática da ONU e ao ex-vice-presidente dos EUA Al Gore, que milita pelo combate ao aquecimento global.
"Isso foi algo controverso, mas no geral foi bem amplamente aceito", disse Lundestad.
Ele não quis comentar as especulações de que, no 60º. aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, o Nobel da Paz seria entregue a um dissidente chinês ou russo.
"Não vou comentar especificamente a situação da Rússia e da China, mas é bem sabido que o comitê tem forte interesses nos direitos humanos e na difusão da democracia", diz ele.
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