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A Real Academia Sueca de Ciências anunciou nesta quarta-feira (5) os vencedores do prêmio Nobel de química deste ano. São Carolyn Bertozzi, americana da Universidade Stanford; Morten Meldal, dinamarquês da Universidade de Copenhague; e o americano K. Barry Sharpless, do Instituto Scripps de Pesquisa, da Califórnia — que agora acumula duas medalhas do Nobel na área. Os laureados têm mérito por “não complicar demais as coisas”, disse Johan Åqvist, chefe do comitê de química do prêmio anual. Juntos, eles transformaram a síntese de biomoléculas complexas, como os medicamentos, em algo quase tão fácil quanto montar um jogo de quebra-cabeças.
Sharpless foi o pioneiro da área, para a qual ele cunhou o nome “química clique” no ano 2000. É uma sub-área da química sintética, ou seja, a química dedicada a criar substâncias e descobrir a receita laboratorial para elas. A química clique é um tipo simplificado de química sintética que toma moléculas menores e descobre reações rápidas que as juntem (daí o nome clique), com poucos produtos indesejados e de simples execução. Há um trabalho de curadoria de cliques para direcionar novas descobertas.
Meldal e Sharpless, independentemente, apresentaram uma das reações mais importantes para esse propósito, que usa o cobre como catalizador — um catalizador é uma substância que não é alterada por uma reação, mas ajuda a iniciá-la ou a torna mais rápida. Essa reação clique agora é usada rotineiramente na síntese de medicamentos e no sequenciamento do DNA.
A parte de Carolyn Bertozzi foi introduzir ao “jogo” os glicanos, moléculas importantes, mas de difícil isolamento que existem na superfície das células. Ela desenvolveu reações clique que acontecem dentro de organismos vivos. Foram chamadas de “reações bio-ortogonais”, pois não atrapalham o funcionamento normal do organismo.
Os químicos competem pela descoberta das formas mais simples possíveis de produzir alguma molécula. Muito admirados são os profissionais que simplificaram, por exemplo, as etapas necessárias para produzir estricnina, substância tóxica usada como pesticida isolada em 1818 de uma planta da medicina tradicional da China e no sul da Ásia. Um protocolo de síntese de 1954 é considerado um clássico da área. Assim como os computadores foram miniaturizados nesse tempo, as reações de produção de substâncias orgânicas passaram por uma revolução de simplificação, sendo a química clique grande parte disso.
Além da produção de medicamentos, a química clique e as reações bio-ortogonais estão presentes na descoberta de tratamentos quimioterápicos mais direcionados para cada tipo de câncer que estão agora em testes clínicos. Há também uma importância econômica: essas pesquisas podem baratear processos mais complicados usados antes, e são feitas de uma forma que aproxima indústria e mundo acadêmico, alinhando seus interesses.