Um alto funcionário norte-coreano, denunciado como vítima de um expurgo na semana passada, reapareceu em público, próximo ao líder do país, Kim Jong-un.
O ressurgimento de Kim Yong Chol, ex-chefe de espionagem e contraparte do secretário de Estados americano, Mike Pompeo, é mais um exemplo de como o regime norte-coreano permanece obscuro para o mundo exterior. É também um lembrete de quão pouco se sabe sobre como Kim Jong-un reagiu ao fracasso de sua cúpula com o presidente Donald Trump em Hanói, no Vietnã.
Rumores da demissão de Kim Yong Chol circulavam desde a visita de Kim à Rússia, no mês passado, quando o ditador norte-coreano se encontrou com o presidente russo, Vladimir Putin. Chol não esteve presente na reunião, algo incomum para um homem que sempre estava perto do ditador em suas viagens ao exterior.
Na sexta-feira passada (31), o jornal sul-coreano Chosun Ilbo relatou ele que havia sido condenado a trabalhos forçados e reeducação ideológica em punição pelo fracasso da cúpula de Hanói. O jornal também informou que Kim Hyok Chol, que havia atuado como contraparte do enviado norte-americano Stephen Biegun em negociações pré-cúpula, havia sido executado, embora muitos diplomatas e especialistas tenham expressado cautela ou ceticismo quanto a essa alegação.
Dois dias depois da publicação da reportagem, a imprensa estatal norte-coreana mostrou uma imagem de Kim Yong Chol em um evento com oficiais militares, sentado a cinco cadeiras de Kim Jong-un. Kim Yong Chol aparece com as mãos na frente de seu rosto, mas é facilmente reconhecível.
Rachel Minyoung Lee, analista do NK Pro, site especialista em Coreia do Norte, disse que Kim Yong Chol foi listado entre os presentes do evento, já que ele é um dos oficiais seniores do partido comunista norte-coreano. Mas acrescentou que o fato de Kim Yong Chol não ter acompanhado Kim na viagem à Rússia e de que teria sido substituído como chefe do United Front Department, órgão do partido encarregado do contato com a Coreia do Sul, implicaram em "um rebaixamento".
A ideia de que Kim Yong Chol havia sido enviado a um campo de trabalho forçado após Hanói também não se encaixou bem com o fato de que ele foi reeleito para a Assembleia Popular Suprema, o parlamento do país, e para a Comissão de Assuntos de Estado, um órgão importante na tomada de decisões do regime.
Kim Hyok Chol, por outro lado, não é visto em público desde o colapso da cúpula de Hanói, embora alguns especialistas afirmem que não faria muito sentido que Kim Jong-un o tivesse executado em um momento em que tenta construir sua imagem como um estadista global.
Se ele cumprir tão severa punição apenas para ter um bode expiatório, ninguém dentro do regime "ousará se envolver em negociações com o mundo exterior", disse Cheong Seong-chang, do Instituto Sejong, da Coreia do Sul. "É muito improvável que Kim dê um castigo tão extremo, a menos que tenha desistido de conversar com os Estados Unidos". Cheong também disse que Kim Hyok Chol foi visto em 13 de abril, citando uma fonte familiarizada com o assunto.
"É verdade que Kim Jong-un use expurgos e políticas de medo para solidificar seu poder absoluto. Mas não é sensato de todo concluir que um funcionário tenha sido expurgado por que não aparece em público a um longo tempo, dado que, em muitos casos, funcionários acabaram sendo demitidos temporariamente ou mudado de cargo", avaliou.