Escalada
Veja alguns fatos que alimentaram a tensão entre as Coreias (com os EUA defendendo a do Sul):
Permissão
A Coreia do Sul pressiona o governo dos EUA para obter permissão para produzir seu próprio combustível nuclear, medida que especialistas em não proliferação de artefatos desse tipo acreditam que pode dar início a uma corrida armamentistas no norte da Ásia e no Oriente Médio.
Sem efeito
Até esta quarta-feira, a retórica norte-coreana sobre realizar ataques contra a vizinha Coreia do Sul e contra os EUA e a declaração de invalidação do armistício que encerrou a guerra da Coreia não havia produzido efeitos práticos.
Acesso
Ontem, Pyongyang decidiu impedir o acesso dos sul-coreanos ao complexo industrial de Kaesong, operado pelos dois países e que funciona em território norte-coreano. O anúncio foi feito um dia depois de a Coreia do Norte ter afirmado que vai reativar seu reator de plutônio e a instalação de enriquecimento de urânio.
Demonstração
As ameaças norte-coreanas foram respondidas com uma demonstração de força militar pelos EUA, que enviaram aviões com capacidade nuclear e jatos que não podem ser detectados por radares.
Ameaça
O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Chuck Hagel, chamou o desenvolvimento de armas nucleares da Coreia do Norte de uma "ameaça crescente" para os EUA e seus aliados. Segundo ele, as ações recentes representam um "perigo real e claro".
O Exército da Coreia do Norte afirmou ontem que tem a aprovação final para lançar "impiedosos" ataques militares contra os Estados Unidos, envolvendo o possível uso de armas nucleares "de ponta".
Em comunicado publicado pela agência oficial KCNA, o Exército norte-coreano informou formalmente Washington que as ameaças dos EUA seriam "esmagadas por (...) meios nucleares leves, de ponta e diversificados".
"A operação impiedosa de forças armadas revolucionárias [da Coreia do Norte] foi finalmente examinada e ratificada", aponta o comunicado.
O Pentágono anunciou ontem que os EUA estão mandando um sistema de defesa antimísseis para a ilha de Guam, um dos territórios americanos no Oceano Pacífico, nas próximas semanas. A Coreia do Norte afirmou anteriormente que as bases militares dos EUA na ilha, além do Havaí, estavam entre os potenciais alvos de um ataque.
Segundo o Pentágono, a decisão foi uma medida de precaução contra as ameaças feitas por Pyongyang nas últimas semanas, que elevaram a tensão na península coreana e despertaram a preocupação dos aliados americanos na região.
O Departamento da Defesa vai enviar um sistema conhecido como Defesa Aérea Terminal de Alta Altitude (THAAD, na sigla em inglês), que inclui um lançador montado em caminhão, interceptadores de mísseis, um radar de rastreamento AN/TPY-2 e um sistema integrado de controle de fogo.
Esse é o terceiro anúncio militar desde o início da semana. Antes, o Pentágono confirmou o posicionamento de dois destróieres equipados com sistema antimísseis no Pacífico ocidental.
Antes do anúncio, o secretário da Defesa dos EUA, Chuck Hagel, disse que as ameaças norte-coreanas representam um perigo real e claro para os interesses dos EUA e seus aliados, como a Coreia do Sul e o Japão. "Estamos fazendo tudo que podemos, trabalhando com os chineses e os demais para destravar a situação na península coreana", disse Hagel durante um discurso na Universidade Nacional de Defesa (NDU).
No mês passado, o Pentágono anunciou um plano para reforçar os sistemas de defesa antimísseis do litoral oeste dos EUA diante do risco de um ataque com mísseis.
Indústria
Ontem, a Coreia do Norte bloqueou o acesso de sul-coreanos a um parque industrial conjunto em Kaesong, do lado norte-coreano da fronteira. Dias antes, Pyongyang havia ameaçado fechar o complexo, que é operado por mais de 123 empresas sul-coreanas e tem cerca de 54 mil funcionários norte-coreanos.
Seul disse que os mais de 800 cidadãos do país que permaneceram no local têm permissão para voltar, mas deixou claro que existe um plano de emergência para garantir a segurança das pessoas na fábrica.
KaesongComplexo industrial dava segurança para empresas em meio à tensão
Agência Estado
O complexo industrial de Kaesong começou a produzir bens em 2004 e vinha até então sendo um ponto de cooperação no relacionamento hostil entre as duas Coreias, cuja guerra foi encerrada em 1953 por um armistício e não por um tratado de paz.
O local permaneceu aberto apesar do afundamento de um navio de guerra sul-coreano em 2010, que matou 46 pessoas e foi realizado, segundo Seul, pela vizinha ao Norte. Um ataque de artilharia norte-coreano contra uma ilha do Sul, naquele mesmo ano, que matou quatro pessoas, também não afetou o projeto.
A continuidade das operações em Kaesong durante esses episódios e seu grande valor econômico para a empobrecida Coreia do Norte deixa as multinacionais estrangeiras tranquilas de que uma nova guerra das Coreias é improvável e que seus investimentos na parte sul da península estão seguros.
"O que vemos agora é algo inesperado, que vai menos na direção dos interesses da Coreia do Norte", disse Patrick Cronin, analista sênior do Center for a New American Security, localizado em Washington. "Trata-se de uma demonstração de curto prazo do descontentamento norte-coreano com a política EUA."