Entrevista
"Republicanos e democratas tendem a jogar no centro"
Jean Cohen, cientista política da Universidade de Columbia (EUA).
A ligação dos republicanos com grandes empresas e a preocupação dos democratas com a classe média estão entre as diferenças entre os dois partidos apontadas pela cientista política Jean Cohen, da Universidade de Columbia (EUA). Ela concedeu entrevista por e-mail à reportagem da Gazeta do Povo.
Na sua opinião, qual a principal diferença entre democratas e republicanos?
O Partido Republicano foi capturado pela esquerda religiosa extremista e pelos libertários. Eles também têm sido controlados pela elite capitalista, grupos associados a grandes petroleiras, pela indústria de armamentos e pelas grandes empresas em geral. O partido democrata, por outro lado, é mais voltado para os interesses da classe média, para o bem estar social (meio ambiente, infraestrutura, sistema de saúde). Os republicanos conseguem votos das pessoas comuns jogando com "questões sociais", aborto, contracepção e religião, por exemplo, enquanto, empurram os interesses dos muito ricos.
E o que há de mais semelhante entre os dois partidos?
Ambos tendem a jogar no centro, estão dispostos a ampliar o poder presidencial e apoiam guerras desnecessárias.
Nas eleições de novembro, os candidatos vão tentar enfatizar suas diferenças ou vão se concentrar em opiniões de centro?
Eles vão enfatizar as diferenças: Obama e os democratas vão focar na justiça econômica e no meio ambiente, os republicanos vão jogar sobre os temas contra o governo, como a questão do aumento de impostos.
Uma das marcas da disputa entre republicanos pelo direito de ser o candidato do partido à Presidência dos Estados Unidos nas eleições deste ano é a tentativa de provar ao eleitorado quem é o mais conservador. Mas quando chegar a hora do embate com os democratas, a partir de junho, a grande questão vai ser qual a diferença entre os dois partidos.
Os contrastes políticos entre os dois partidos que monopolizam a política norte-americana aparecem tanto em suas posições morais, quanto nas políticas econômicas. "Republicanos geralmente são mais conservadores em questões como aborto, casamento gay e métodos contraceptivos. Os republicanos também tendem a ser um pouco mais conservadores com relação aos gastos do governo em programas sociais", diz Quin Monsn, cientista político da Brigham Young, nos EUA
O nível da presença do Estado na vida dos cidadãos é uma diferença marcante entre os dois partidos, como explica Tácito Rolim, mestre em História Social pela Universidade Federal do Ceará (UFC). "Enquanto os republicanos defendem visceralmente o Estado mínimo, sem intervenções significativas na vida do cidadão comum, os democratas apregoam uma maior participação do Estado na sociedade e na economia.", diz Rolim, que foi pesquisador-visitante na Universidade de Georgetown.
O analista político João Augusto de Castro Neves, da Eurasia consultoria, em Washington, explica que os republicanos são mais pró-livre-comércio. Já os democratas se definem como a favor do livre mercado, mas criam medidas de protecionismo ao querer incluir cláusulas trabalhistas e ambientais nos contratos.
"Isso é inviável porque as cláusulas dos EUA são muito mais elevadas que as dos países mais pobres. Eles nunca dizem que são protecionistas, mas na prática é uma barreira ao livre comércio", observa Neves.
Extremismo pré-eleitoral
Durante a batalha interna nos partidos a tendência é, segundo o analista da Eurásia, os candidatos radicalizarem o discurso. "Quando os candidatos estão sendo escolhidos, vão em direção aos extremos, tentam buscar apoio das bases". Neste ano, os democratas estão livres desse processo porque Obama é candidato à reeleição.
Mitt Romney, o candidato republicano considerado até agora o mais moderado, tem se esforçado para parecer mais conservador. Seu maior rival no quesito moralismo é o super-católico Rick Santorum, conhecido por ter uma postura bastante radical diante de temas como aborto e casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Uma das críticas que Romney enfrenta em seu próprio partido é ter implantado um sistema saúde quando era governador em Massachusetts semelhante ao que agora Obama fez em seu mandato. "O que o presidente Obama fez basicamente foi adaptar a proposta dos republicanos", diz Monson. "Às vezes parece que eles se opõem uns aos outros, apenas para se contrariar", completa.
Falar de um padrão de políticas ou comportamento entre democratas e republicanos é uma simplificação. Há tanto republicanos mais liberais, quanto democratas mais conservadores. A maior semelhança pode estar na defesa dos princípios típicos do país, como a Constituição, a liberdade e a própria economia. "Ambos defendem o sistema capitalista nos moldes norte-americanos. Na hora dos seus interesses comerciais, por exemplo, eles se tornam muito próximos", diz Rolim.
"Com a eleição nacional, começa um movimento oposto e os candidatos tendem a ir para posições mais moderadas até o ponto de confundir o eleitorado propositalmente", aposta Neves para eleição de novembro.
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