Washington - O presidente dos EUA, Barack Obama, decidiu ontem não divulgar as fotos do corpo do líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden, morto a tiros no último domingo no Paquistão, frustrando pedidos dentro e fora do país por mais provas da operação. Segundo a Casa Branca, a avaliação é que as imagens poderiam incitar violência.
"Não vamos usar [a foto] como um troféu. Não somos assim. Não precisamos nos gabar", disse Obama. "Não há dúvida de que Bin Laden foi morto. Ele nunca mais será visto andando na Terra."
As declarações foram dadas ao programa 60 Minutes, da rede CBS, cujos trechos foram lidos por um porta-voz da Casa Branca.
Bin Laden foi morto em uma operação de forças especiais da Marinha (Seals) e agentes da CIA em um complexo fortificado em Abbottabad, a cerca de uma hora da capital paquistanesa. Apesar de desarmado, ele resistiu e recebeu tiros no peito e na cabeça a curta distância, disse a Casa Branca.
As imagens mostram não apenas sangue, mas material encefálico em uma grande ferida na cabeça ele foi atingido acima do olho esquerdo e o projétil partiu seu crânio, segundo relatos.
O debate sobre o destino das fotografias foi intenso nos últimos dois dias. A argumentação vencedora foi a de que, enquanto inflamariam seguidores e colocariam em risco a segurança nacional, não convenceriam os céticos de que o terrorista foi morto.
Entre os que defenderam segurar as fotos estão o secretário da Defesa, Robert Gates, e a secretária de Estado, Hillary Clinton.
"Imagem não resolve", comparou o analista conservador Robert Kagan ao comentar a discussão. "Quem duvida da morte vai continuar a argumentar que poderíamos fabricar a foto."
Já o diretor da CIA, Leon Panetta, havia dito anteriormente que havia pouca dúvida de que eventualmente as fotos seriam mostradas.
Para Daniel Byman, do Instituto Brookings, "não liberar as fotos estimula teorias da conspiração".
Familiares de vítimas do 11 de Setembro também advogaram pela divulgação. Hoje, Obama deverá encontrar alguns deles em uma cerimônia no memorial do atentado em Nova York. O ex-presidente americano George W. Bush recusou um convite para participar do evento.
Outras fotos da operação no complexo da Al-Qaeda foram adquiridas por agências de notícias e divulgadas. Uma delas mostra três homens mortos sobre poças de sangue, mas nenhuma arma.
Segundo a Reuters, a foto foi tirada por um agente de segurança paquistanês que entrou no local depois do ataque. Ele vendeu as imagens em anonimato.
A Reuters garante que verificou a autenticidade das imagens e que elas não foram alteradas.
Governo dos EUA classifica de "autodefesa" a morte do líder da Al-Qaeda
O secretário da Justiça americano, Eric Holder, defendeu ontem a ação que matou Osama bin Laden, um dia após vir à tona que o terrorista estava desarmado. A informação infla as dúvidas sobre a legalidade de executar o terrorista, ao invés de prendê-lo e julgá-lo.
Para Holder, a ação foi um "ato justificável de autodefesa nacional" amparado no sistema legal dos Estados Unidos.
"Ele [Bin Laden] era o líder da Al-Qaeda, organização que conduziu o 11 de Setembro. Ele admitiu seu envolvimento. É legítimo ter como alvo um comandante inimigo em campo", afirmou.
Holder pediu a renovação do controverso conjunto de leis de exceção implantado por Bush após o 11 de Setembro, o Ato Patriota.
Ameaça
A maioria dos juristas ouvidos pela reportagem alega que a ação que culminou na morte foi legal, posto que Bin Laden era uma ameaça à segurança dos EUA reiterada em novos atentados e declarações do terrorista e sua rede.
O Paquistão, segundo o governo americano, ignorava a operação de domingo, mas compactuava com a busca.
Há dúvidas, porém, se a execução em si infringe a lei nacional e internacional. As informações divulgadas até agora são nebulosas. Segundo a Casa Branca, o saudita estava desarmado, mas resistiu à prisão.
A questão
"O cerne da questão é se há alguém planejando ataques contra seu país e você não consegue que o governo do país onde a pessoa está o prenda; você tem de poder prendê-lo ou matá-lo, em defesa de sua população", diz o jurista Philipp Heymann.
Heymann, que dirige em Harvard o Centro Internacional para Justiça Criminal, diz que, para se justificar, a ação "deve ser o último recurso e é preciso haver provas. Além disso, é preciso que o outro país não colabore".
O grupo pró direitos humanos Anistia Internacional, porém, vê lacunas no relato norte-americano e solicitou detalhes da operação.
"Bin Laden é um ser humano, e o critério para ele ser preso deveria ser o mesmo de todo mundo se havia a possibilidade capturá-lo, é isso que deveria ser feito, mas se ele oferecia ameaça, aí é permitido atirar contra ele, como contra qualquer criminoso", afirma Claudio Cordone, diretor-sênior da Anistia.