LONDRES - Cientistas verificaram que a língua tem papilas gustativas especiais para identificar - e apreciar - o sabor da gordura, o que poderia explicar por que gostamos tanto de alimentos fritos ou ricos na substância. A descoberta faz parte de um novo estudo realizado por pesquisadores franceses da Universidade de Burgundy, e publicado no "Journal of Clinical Investigation".
Tradicionalmente, especialistas pensavam que a língua era capaz de detectar apenas cinco sabores - amargo, azedo, salgado, doce e um gosto específico para alimentos ricos em proteína. Testes com ratos de laboratório, porém, revelaram que existe um receptor na língua para o gosto da gordura. A única dúvida é se essa característica também é encontrada na língua de humanos.
O cientista que liderou a pesquisa, Philippe Besnard, acredita que os receptores CD36, identificados no estudo, desempenharam papel importante na evolução do homem. Segundo o pesquisador, esses receptores teriam sido os responsáveis pela maior ingestão de alimentos ricos em energia na época em que a comida era escassa. Mas na realidade atual - com comida em abundância e considerando o fato de 40% da energia que consumimos virem da gordura -, seria uma desvantagem esses receptores continuarem atuando da mesma forma nos homens, segundo o pesquisador.
Já se sabia que o receptor CD36 pode ser encontrado em diversos tecidos envolvidos no armazenamento de gordura no organismo, mas não se imaginava que ele poderia estar presente - de forma ativa - também na língua.
Para checar o poder do CD36 na língua de perceber a gordura, os pesquisadores fizeram experiências com ratos e camundongos normais e com outros nos quais os receptores CD36 foram "desligados".
Os animais normais mostraram uma preferência para alimentos gordurosos quando estes lhes eram oferecidos, o que não ocorreu entre aqueles em que os receptores estavam inativos. Além disso, quando os pesquisadores colocavam um líquido com gordura na língua dos animais normais, havia uma maior liberação de substâncias envolvidas no processo de digestão de gordura. Uma reação que não se repetiu entre os roedores com os receptores desativados.
O professor Nada Abumrad, da Escola de Medicina da Universidade de Washington, em St. Louis, comentou em um artigo também publicado no "Journal of Clinical Investigation" que, na medida em que se coletam mais informações sobre as funções desses receptores, melhores estratégias poderão ser desenvolvidas para entender o potencial "viciante" das dietas gordurosas.
A capacidade de assimilar de formas diferentes os sabores - enquanto umas pessoas são mais sensíveis a determinado gosto, outras nem o sentem -, na opinião de Abumrad, poderia explicar por que as pessoas não resistem a determinados alimentos e, por isso, acabam engordando mais.
- Há evidências de que a obesidade pode estar associada a uma resposta anormal do cérebro à percepção sensória de uma refeição - afirmou o professor.
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